Paul Thomas Anderson
USA - 1999
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magnolia
POR PEDRO HOMERO
Se chove o dia inteiro
sem parar então isso tem que significar alguma coisa.
Nem que seja o facto de que o céu está triste e chora.
O sr. Anderson é um exímio analista dos sentimentos
humanos e o seu bisturi psicológico corta rente, sem dilacerar,
os nervos que transportam a nossa raiva, angústia, tristeza, confusão e alegria.
Em Magnólia, tal como no anterior Boogie Nights, as personagens
são pessoas: não são decalcomias (kalkitos)
dos modelos hollywoodescos. O mais interessante é que
ambos giram em torno de mundos que vivem da ficção: o cinema porno então, a TV agora.
Aqui reside talvez um dos maiores, entre muitos, motivos de interesse
do filme: a análise psicossocial é intensa e realista,
mesmo tratando-se de pessoas com vidas glamorosas. O que as mostra
despidas e iguais a nós, quando chega a altura de deitar tudo cá
para fora.
O casting, mas sobretudo a direcção de actores,
funcionam bastante bem, o que é de louvar pois reside
aí metade da qualidade de um filme. Claro que facilita
ter Tom Cruise como 'salesman' de sexo, William H. Macy, igual
à sua personagem em 'Fargo', Phil Parma perfeito como
enfermeiro 'o-que-é-que-eu-estou-a-fazer-aqui?', e a divina
Julliane Moore, num desempenho soberbo. Jeremy Blackman como
miúdo do concurso foi um verdadeiro achado.
Para quem acha que efeitos especiais é que é, então
aconselho o último quarto de hora do filme: a dreamworks
fez, de facto, um trabalho de sonho, que deixará contente
(e aliviado) o espectador que esperava menos densidade psicológica. |