Seca continua
Agricultura da Beira Interior
sofre elevadas quebras


A cultura do milho pode baixar cerca de 60 por cento. A batata de regadio entre os 28 e 40 por cento. O pêssego é tão pequeno que nem a indústria de compotas o quer. E no azeite, também se espera uma grande quebra de produção. Tudo isto porque não choveu. E a água que caiu até agora não chega para repor os níveis.

NC / Urbi et Orbi

A seca está a deixar a agricultura da região à beira da ruptura

O território português continua em situação de seca severa (36 por cento) e extrema (61 por cento). E com isto, na Beira Interior, quem está a sofrer mais é a agricultura. É isto que revela o último relatório quinzenal da Comissão Nacional para a Seca em Portugal, que data do passado dia 30 de Setembro.
Segundo os dados apurados pelos técnicos responsáveis pelo estudo, apesar de ter chovido entre 6 e 11 de Setembro, na Beira Interior, essa pouca precipitação não contribuiu para uma melhoria das culturas. Nas de sequeiro, por exemplo, e nomeadamente no milho, a escassez de água tem contribuído para que este não tenha as condições mínimas de crescimento, o que poderá levar a quebras de produção na ordem dos 60 por cento em algumas zonas. Na batata de regadio, que já está quase toda colhida, há um rendimento muito inferior ao normal, com quebras entre os 20 e 48 por cento. No azeite, os olivais apresentam sintomas de secura, muitos com a folha enrolada e com a queda do fruto em alguns locais. Com isto, espera-se uma descida acentuada da produção (cerca de 20 por cento).
Nas frutas, o cenário não é mais animador. O pêssego, em alguns locais, teve quebras de produção de 20 por cento, além de que se apresentava com um calibre tão pequeno que perdia valor comercial e em alguns casos nem sequer era aceite para a indústria das compotas. Na uva, com a maioria das vindimas já realizadas, as adegas registaram menos 20 por cento na produção deste ano, apesar de a qualidade estar assegurada. Os pomares de macieiras e pereiras também têm menos frutos, e os citrinos (laranja e limão) também apresentam quebras de produtividade na ordem dos 25 por cento. Até os pequenos frutos como a amora e framboesa têm prejuízos na ordem dos 35 por cento.
Já no que toca à alimentação de animais, tem sido bem mais cara este ano, pois foi preciso recorrer a palhas muitas vezes vindas do estrangeiro, bem como a rações industriais. Também as regas ficaram mais caras, com o aumento dos custos de bombagem, de gasóleo e até a necessidade de se comprarem motores mais potentes. E a água tem sido tão escassa que até há animais a bebê-la através de poços e furos.
Apesar de nos últimos dias ter chovido com alguma intensidade, segundo o INAG esta água não chega para repor as necessidades. “Era preciso chover muito bem durante um mês” explica Rui Rodrigues, daquele Instituto da Água.

Populações abastecidas por bombeiros

Em algumas localidades da Beira Interior, até ter água para consumo humano tem sido difícil. Há municípios que estão a recorrer a autotanques, quer das autarquias, quer dos bombeiros, para levar a água às populações. É o caso de Aguiar da Beira, Almeida, Celorico da Beira, Gouveia, Guarda, Fundão, Sabugal, Seia e Fornos.
Há também câmaras que optaram por reduzir os períodos de abastecimento, como Manteigas, Gouveia ou Guarda, e a generalidade dos municípios tem aconselhado as pessoas a racionalizar o consumo, para além de reduzirem as regas em jardins públicos.