O Anfiteatro da Parada foi o local escolhido para realizar este encontro
Reunião transnacional
Começar de novo em "MARTE"

No dia 27 de Abril o CES-UBI organizou, no Anfiteatro da Parada, no Pólo I, da Universidade da Beira Interior, uma reunião transnacional dedicada a um projecto pioneiro que procura ajudar as mulheres desempregadas dos têxteis a recomeçar de novo. O projecto MARTE, assim se chama, coexiste com alguns parceiros transnacionais e é uma aposta ambiciosa para o concelho da Covilhã.


Por Helena Mafra


Actualmente a Covilhã é um concelho conhecido pela crise no sector têxtil, que tem gerado o fecho de inúmeras fábricas, e muito desemprego. Nos têxteis trabalham maioritariamente mulheres. Logo, são as mulheres que mais ficam desempregadas sempre que fecha uma fábrica.
É a partir deste raciocínio lógico, mas infeliz, que são seleccionadas 12 mulheres, desempregadas dos lanifícios e com idades compreendidas entre os 35 e 45 anos de idade, uma faixa etária onde já não é fácil começar de novo. Como reinseri-las socialmente? Esta questão é a base de um projecto-piloto chamado MARTE – Modelo de Apoio à Reconversão de Mulheres Desempregadas do Sector Têxtil. O programa pioneiro está a ser desenvolvido pelo Centro de Formação Profissional para a Indústria dos Lanifícios, em parceria com o Centro de Estudos Sociais da UBI, a Associação Empresarial da Covilhã, Belmonte e Penamacor, o Instituto de Emprego e Formação Profissional, o Sindicato Têxtil da Beira Baixa e a empresa de consultadoria Global Change.
Identificadas neste programa, as 12 mulheres passam cerca de 30 a 35 horas em acções de formação transversais nas instalações do Cilan, onde aprendem desde o inglês, às novas tecnologias, qualidade e atendimento. “Todas vão chegar ao fim de Maio com um novo ano de escolaridade”, afirma Maria João Garrett, responsável pelo projecto. Cabe, depois, ao CES-UBI fazer o balanço das competências profissionais.
A inserção social destas mulheres prende-se com a identificação do potencial das oportunidades de emprego a nível regional. “A questão não é a identificação das oportunidades, mas de como essas oportunidades são accionadas em apostas efectivas de emprego”, reforçou a professora Maria João Simões, coordenadora do CES-UBI. “A grande dificuldade, e é aqui que o projecto MARTE ajuda, é como adaptar os recursos existentes ás expectativas destas mulheres”. Segundo Maria João Simões estas “oportunidades situam-se nos três sectores de actividade”. No primário, a agricultura biológica, fruticultura, horticultura e produção e protecção florestais são áreas de crescente procura. No sector secundário, o nível agro-alimentar tradicional também seria uma boa aposta. E, por fim, no sector terciário, o turismo e restauração de qualidade, são, ainda, uma falha no concelho da Covilhã.
Porém, quaisquer que sejam as iniciativas, “estas só se poderão realizar com parceiros sociais no desenvolvimento de emprego local”, como disse Miguel Bernardo, da Associação Empresarial da Covilhã, Belmonte e Penamacor. Este realçou ainda que “as empresas não criam emprego porque há desempregados, mas porque precisam de empregados para cumprir os seus objectivos”. Para Miguel Bernardo o desafio deste projecto é poder definir problemas concretos com os quais está disposto a cooperar.
O que não pode mesmo acontecer, disse Luís Garra, do Sindicato dos trabalhadores do Sector Têxtil, é “que se defraudem as expectativas destas mulheres, o que seria muito mau”.
O objectivo do projecto MARTE não é resolver o problema do desemprego, mas “criar um modelo virtuoso de inserção de mulheres desempregadas dos têxteis, que depois possa ser transferido para outros contextos”, explicou Maria João Garrett.
A criação do próprio emprego pode revestir-se, dentro das iniciativas deste programa, como uma oportunidade de reinserção destas mulheres no mercado de trabalho. Só é preciso que se saiba como e em que áreas arriscar. Para evitar que as iniciativas empresariais falhem, é de fulcral importância entrar no domínio do empreendedorismo. Nas palavras da professora Maria José Silva, “só um espírito perspicaz, proactivo e auto-confiante reúne as características essenciais para montar um negócio.
O projecto MARTE não é, contudo, único. Nesta parceria transnacional, existem projectos semelhantes, como é o caso Espanhol Inserempleo, o projecto Italiano Ginestra, ou até um outro caso português, o SAPE.
Para já só existe financiamento, através da EQUAL, para este projecto-piloto. Para se tornar um programa disponibilizado gratuitamente, “vai depender dos apoios que venham a ser disponibilizados pelo Estado ou pela União Europeia”, rematou a responsável pelo Cilan.
Porque esta iniciativa é merecedora de menção, o CES – UBI realizou, no dia 27 de Abril, no Anfiteatro I do Pólo I da Ubi, um seminário transnacional dedicado ás experiências que estão a ser feitas com estas 12 mulheres.