O aparelho desenvolvido pelo Centro de Óptica da UBI é único em Portugal
Projecto do Centro de Óptica da UBI
Renovar as cores da arte

Um dos mais recentes projectos do Centro de Óptica da UBI deu origem a um equipamento capaz de digitalizar o espectro das obras de arte de uma forma única. As informações recolhidas por este sistema têm várias aplicações práticas.


Por Eduardo Alves


Um labirinto de corredores serve de ligação entre as diversas salas que compõem o Centro de Óptica da UBI. Situado no Pólo I da instituição, este complexo caracteriza-se pela ausência de janelas, “condição essencial para o bom funcionamento dos aparelhos e das investigações que aqui decorrem”, explica Paulo Fiadeiro, docente do Departamento de Física da instituição e responsável por algumas das actividades desenvolvidas nesta estrutura.
De entre as investigações e projectos inseridos no Centro de Óptica a “Digitalização Hiperespectral de Pinturas Artísticas” ganha agora relevo. Este sistema óptico está concebido para “digitalizar imagens com vista à sua caracterização espectral e colorimétrica”, explica Fiadeiro. Este sistema é composto por uma fonte de luz monocromática sintonizável, que consiste numa lâmpada de Xénon acoplada a filtros de interferência, o que possibilita efectuar a entrega de luz monocromática por fibra óptica para iluminação do objecto a digitalizar através de uma câmara de vídeo digital monocromática arrefecida, que regista os espectros da luz reflectida pelo objecto. Toda esta informação é depois conduzida para um computador de controlo. Esta máquina apetrechada com um software próprio desenvolvido também na UBI, pela equipa de investigação, vai depois permitir ter acesso a todos os dados necessários ao estudo espectral e colorimétrico do objecto. Todo o conjunto de componentes que constituem o sistema são suportados por uma mesa de varrimento bi-direccional que possibilita a digitalização de objectos de grandes dimensões.
Este sistema tira “fotografias” ao objecto em questão e recolhe as suas informações cromáticas e espectrais. Algo que “possibilita a caracterização das cores, porque se têm os correspondentes espectros de reflectância”, adianta o docente. Este projecto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) arrancou no ano passado e prolonga-se por mais dois anos. A coordenação é feita pelo docente Paulo Fiadeiro que conta ainda com a participação do docente do Departamento de Física, Francisco Miguel Pereira Brardo Ferreira e com o bolseiro João Miguel Dias Pereira Bernardo.
Tem como parceiros o Centro de Óptica, a Unidade de Detecção Remota e o Departamento de Física da UBI, o Centro de Física da Universidade do Minho (UM), o Instituto Português de Conservação e Restauro (IPCR), o Museu de Lanifícios da UBI e o Museu Nogueira da Silva da UM. Até agora “estivemos a desenvolver um software específico para este projecto e a reunir o material necessário”. Nesta segunda fase, dois elementos deslocaram-se já a Lisboa, ao IPCR, onde fizeram a digitalização de três pinturas artísticas. Nesta visita houve ainda tempo para uma palestra ministrada por Francisco Brardo Ferreira intitulada “Digitalização Hiperespectral: Fundamentos”, que contou com a presença de cerca de 30 pessoas, entre funcionários e estagiários, do IPCR.
As três pinturas digitalizadas em Lisboa são as primeiras a constituir uma base de dados que vai ser alargada com mais peças do Museu Soares dos Reis, no Porto, do Museu dos Lanifícios, e do Museu Nogueira da Silva. Esta base de dados “vai servir de arranque, como uma alavanca do projecto”, reitera Paulo Fiadeiro. O mesmo sublinha que um dos objectivos desta base de dados afecta à investigação vai no sentido de “estudar todas as potencialidades do sistema”. O equipamento que está agora a ser testado no Centro de Óptica permite, entre outras aplicações “auxiliar no processo de conservação e restauro de obras de arte, verificar a sua autenticidade e catalogar as mesmas”. Segundo os membros da equipa de investigação, este tipo de equipamento é o primeiro no nosso País, a reunir estas características e tecnologia de ponta.


Múltiplas aplicações

Os intervenientes no projecto apresentaram uma palestra em Lisboa

Museus, galerias, coleccionadores, têxteis, polícia e um sem número de interessados podem encontrar utilidade neste sistema. A sua inovação tecnológica e capacidade de recolha pormenorizada de diversos dados faz com que a digitalização hiperespectral desenvolvida no Centro de Óptica da UBI constitua um instrumento topo de gama, na sua área.
Paulo Fiadeiro aponta como um exemplo prático, uma das utilizações que agora está a ser dada ao sistema, “ainda que em pequena escala”. Se um determinado museu digitalizar os seus quadros numa data e passado algum tempo voltar a fazer o mesmo processo, “consegue, com este sistema, conhecer a degradação das pinturas, se os pigmentos estão a perder as suas características bem como outras questões relacionadas com o quadro”. Para além disso, com este novo equipamento, “toda a informação recolhida pode ser tida em linha de conta na hora de restaurar pinturas e na análise de outro tipo de objectos, como tecidos”, acrescenta ainda o docente.
Por outro lado, “quando falamos em espectros estamos a falar na “impressão digital” da pintura”. A digitalização hiperespectral consegue recolher informação suficiente e fidedigna para que se existir uma obra de arte digitalizada e posteriormente aparecer uma outra “se for necessário verificar qual delas é a autêntica, isso pode ser feito através deste sistema, uma vez que se tem a informação espectral da verdadeira obra”. O coordenador deste projecto apoiado pela FCT recorda ainda que este processo serve também para outro tipo de objectos que se possam digitalizar e guardar as informações por uma questão de segurança. A visita a vários museus para digitalizar pinturas, telas, tecidos e outros objectos são os próximos passos deste projecto. No final, o objectivo poderá passar pela comercialização deste aparelho desenvolvido na Covilhã.