Por Eduardo Alves


Durante três dias falou-se da história, das teorias e das práticas que unem filosofia e medicina

O corpo humano pode ser visto pelo médico como a mais complexa das máquinas nesta era de advento tecnológico. Como todos os aparelhos, o seu bom funcionamento requer alguns cuidados e quando surgem problemas estes podem ser associados a sinais de alerta que todo o corpo humano transmite.
Como um “mecânico especializado”, o profissional de saúde tem de saber interpretar os sinais dados pelo doente para fazer uma correcta avaliação do estado “da máquina”. Ora, de sinais, mais propriamente, da simbologia, da semiótica trata também a filosofia e todo um conjunto de ciências ligadas às artes. Um dos exemplos da ligação entre diferentes campos do saber. Foi com este espírito de interdisciplinaridade que os departamentos de Comunicação e Artes e de Ciências Médicas da Universidade da Beira Interior (UBI) realizaram as primeiras jornadas de Filosofia e Medicina.
Rui Bertrand Romão, docente no Departamento de Comunicação e Artes e um dos responsáveis pela organização do evento recorda que “existem vários traços conjuntos entre a medicina e a filosofia”. Em termos epistemológicos, a filosofia anda “de mãos dadas com a saúde”. Desde a formação dos métodos científicos “que estes campos do conhecimento caminham em conjunto”, salienta este mesmo docente.
Foi pela história que começaram as várias palestras apresentadas ao longo de três dias de actividades na UBI. A forma de aproximação entre pessoas, a formulação de diagnósticos e a abordagem a algumas terapias estão ligadas ao campo da filosofia. Um dos pontos recordados pelos oradores foi o de ciência geral dos princípios. Todo o campo científico particular, como é o caso da medicina, pressupõem bases mais vastas, essenciais que podem ser encontradas na filosofia. A doutrina filosófica, imanente na cura dos homens deu azo a muitas conversas sobre os vários rumos que a medicina está hoje a tomar.




A descoberta do “si próprio”

OO homem sempre teve “uma preocupação particular consigo mesmo”, explica Maria Filomena Molder. Esta docente da Universidade Nova de Lisboa, que falou sobre o símbolo, integrou um painel de oradores, “bastante prestigiados”, sublinha Rui Bertrand. Nomes como Nuno Nabais, Francisco Pimentel, Adelino Romão e Montserrat Fonseca deslocaram-se à Covilhã para falar sobre “a medida”, “o indivíduo”, ou simplesmente, “o todo e a parte”.
Este leque temático serve para lembrar que “são os sintomas, os sinais, que evidenciam a nossa existência”, sustenta Filomena Molder. A compreensão dos vários alertas, a interpretação correcta destes e um tratamento humano e racional, “são receitas fundamentais para uma boa cura”, explica Manuel Silvério Marques, investigador do Centro de Estudos de Filosofia da Medicina do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil.
Neste seminário foram também surgindo várias problemáticas sobre a articulação destes dois campos do saber. Uma “correcta articulação” é, na perspectiva dos organizadores, “a melhor forma de encontrar um caminho comum”. Com um balanço positivo, Rui Bertrand fala na contemplação “de dois campos do saber”, abordados, segundo este docente, “da forma mais diversificada e multiforme possível”. Num seminário onde medicina e filosofia estiveram juntas na teoria, na prática e na história. Uma acção que confrontou reflexões das duas áreas de estudo de uma forma vasta, desde a epistemologia, passando pela ética e culminando na história das ciências.

Ver também: "Números que Falam"