Por Filipa Minhós


Um olhar pela história da Comunicação e também o que ela representa foi o que se verificou na UBI

A comunicação é falada e estudada há milhares de anos, mas a actual necessidade crescente de abordar a temática dos processos comunicativos é uma evidência. “Já na Antiguidade, Aristóteles escreveu uma retórica para ensinar as pessoas a falarem, a comunicarem através de estilos ficcionais. Nessa altura não reflectíamos sobre a nossa fala. Todavia, hoje em dia, usamos dispositivos que são exteriores ao nosso corpo e que não são tão familiares e íntimos, pelo que se torna mais fácil questionar o processo comunicacional” – explica João Correia, professor do Departamento de Comunicação e Artes da UBI.
Dois séculos de Comunicação é uma iniciativa realizada pelo LABCOM, no âmbito dos projectos Compolis (Identidade e Cidadania) e Nico (Novas Formas de Informação e Comunicação On-line) que, beneficiando de total apoio por parte do Departamento, procurou debater como é que os novos media e as novas tecnologias de informação podem ajudar as pessoas a tornarem-se conscientes das suas acções, para promoverem o seu próprio desenvolvimento e superarem as suas dificuldades.
No passado dia 21 de Abril, Eduardo Vizer, doutorado em Sociologia e professor de Ciências da Comunicação da Universidade de Buenos Aires, na Argentina, foi o especialista convidado para palestrar sobre estas temáticas. As novas tecnologias da informação e da comunicação são uma questão que está a ser muito revitalizada, não só no âmbito das Ciências da Comunicação, mas também ao nível dos próprios governos, na medida em que estes pretendem saber como é que as novas tecnologias ajudam na promoção da educação e da cultura, nomeadamente, junto dos excluídos económica e socialmente. “O excesso de informação só pode ser um problema para os países ricos. Isto porque até nos países ricos existe uma forte info-exclusão, ou seja, há pessoas que não têm sequer possibilidade de ler um jornal” – salienta João Correia. Desta forma, o objectivo primordial desta conferência assentou em compreender como colocar os novos meios e tecnologias de comunicação ao serviço das pessoas que não têm acesso a qualquer forma de educação, e cuja informação que possuem é baseada exclusivamente na tradição e na experiência de vida.
Para Vizer, o grande problema com que se debatem todas as universidades é saber, em primeiro lugar, o que é a comunicação. “Comunicação e informação são coisas distintas. A comunicação é a liberdade de praticar o acto de comunicar, ao passo que a informação está mais relacionada com os dados e os factos que nos são oferecidos de forma mais ou menos clara” – explicita o professor argentino. Eduardo Vizer procurou alertar ainda os alunos para o aspecto assustador das novas tecnologias da comunicação e da informação. “Um computador pode, na actualidade, escrever um texto totalmente correcto a nível gramatical, e possuir (imagine-se só) traços de criatividade humana. Isso assusta-me imenso” – confessa.
Dentro de um mundo hiper-comunicado, torna-se complicado discernir entre o que é verdade e mentira. Todavia, “nesta imensa circulação de informação, o ser humano não é totalmente passivo. A circulação de informação influencia a forma como pensamos o social, isto é, permite a construção de sentidos na nossa vida” – afirma Eduardo Vizer.
Até ao final do ano vão ainda ser realizadas diversas iniciativas pelo LABCOM e pelo Departamento de Comunicação e Artes. Ligado também ao tema das tecnologias de informação, vai decorrer nos dias 14 e 15 de Outubro, o Encontro Nacional de Weblogs, que reunirá bloggers de quase todo o País. Terão lugar também umas jornadas sobre Media e Proximidade, onde se debaterá a importância dos media comunitários on-line nas pequenas comunidades. Vão realizar-se ainda jornadas sobre Comunicação Política centrada nas Eleições, em que o debate procura descobrir até que ponto as novas tecnologias da comunicação já estão a penetrar nas campanhas eleitorais.