Doutoramento em sociologia
O processo de descolonização

Num período em que conceitos como o racismo, a xenofobia e as relações entre os diferentes povos estão cada vez nos tópicos quotidianos de discussão é apresentada na UBI uma tese de doutoramento que para além destes temas aborda também a questão da descolonização portuguesa.

Por Eduardo Alves

A tese de doutoramento apresentada na UBI fala sobre o processo de descolonização

Vieram embaixadores e altas figuras de várias nações assistir à discussão da tese de doutoramento sobre a descolonização portuguesa. Um trabalho de cinco anos que acaba agora por ser apresentado à comunidade científica e fala sobre toda a temática que envolve a descolonização do chamado “império português”.
Esta tese envolveu várias figuras relacionadas com todo o processo, através de entrevistas conduzidas pelo autor do trabalho, José Filipe Pinto. Este falou com as mais importantes figuras que estiveram relacionadas com a descolonização e acabou por fazer um apanhado das principais ideias.
Para além de toda a temática da descolonização, outro dos assuntos abordados foi o que surgiu logo após este episódio histórico. Nesse sentido, “foi estudado, de forma profunda, o conceito de comunidade dos países de língua portuguesa, CPLP”, refere. Um conjunto de nações, que ao contrário do que se julga “estão ligadas através do espírito dos povos irmãos”. Este doutoramento, “dos poucos estudos realizados em Portugal sobre esta temática” aborda também duas realidades, “antes da queda do império colonial e depois desse período, com o surgimento da CPLP”. Esta última “ainda não tem a visibilidade que merece”, adianta ainda o autor deste estudo. Isto porque, “cada vez mais esta temática vai perdendo importância no seio de um País que sempre esteve ligado a outros povos”. A cultura e a ligação entre as várias nações “deve ser sempre mantida, independentemente de todos os episódios menos bons que os povos possam produzir”, atesta o autor do trabalho intitulado "Do Império Colonial à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa: Continuidades e Descontinuidades".
Para este investigador social torna-se fundamental uma investigação sobre a relação entre Portugal e os povos irmãos. A língua e as gentes “estão enraizadas em nós”. Afirmações que conduziram esta tese a conceitos como os do racismo e da xenofobia. Na óptica deste investigador, os últimos acontecimentos registados em Portugal levaram a que a população reflectisse mais sobre este assunto. Algo que “já deveria ter sido feito há muito”. Até porque “Portugal sempre foi visto como um território de brandos costumes”. Estes fenómenos que “surgem da aculturação entre os vários Estados, ainda não foram estudados profundamente”.
Adriano Moreira fez também parte do júri deste doutoramento. Esta figura que tem escrito e documentado a questão da descolonização refere que “o sistema político tem muito para trabalhar”. Para este estudioso, “as sociedades europeias enfrentam agora toda uma nova geração de pessoas que têm as suas ligações às ditas colónias e que não lhes agrada a forma como essas nações são tratadas pelos povos europeus”.
Como júri destas provas estiveram Adriano José Alves Moreira, professor catedrático emérito da Universidade Técnica de Lisboa, Adelino Augusto Torres Guimarães, professor catedrático do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa, António Custódio Gonçalves, professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Marco António Monteiro de Oliveira, professor titular da Universidade Lusófona, José Carlos Gaspar Venâncio, professor catedrático da Universidade da Beira Interior, Victor Kajibanga, professor titular da Universidade Agostinho Neto, Eduardo Maria Costa Dias Martins, professor auxiliar do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa e Onésimo Silveira, embaixador da República de Cabo Verde.