Ex-trabalhadores da Garagem de São João
António Lopes garante indemnizações

Depois de uma reivindicação de antigos trabalhadores da Garagem de São João das indemnizações a que têm direito, o actual proprietário do edifício, António Lopes, garante o pagamento das mesmas.

Filipa Minhós
NC / Urbi et Orbi

Os trabalhadores da empresa referem que nunca receberam as indemnizações devidas

António Lopes, actual proprietário da Garagem de São João, vai assegurar as indemnizações aos antigos trabalhadores da firma. Foi no dia 17 de Março do ano passado que a “Garagem de S. João”, fundada há cerca de 50 anos, e que esteve na origem da empresa “C.A. Pintura e Bate-Chapas, fechou as portas. O encerramento lançou no desemprego cerca de 25 trabalhadores, que já contavam com três meses e meio de ordenados em atraso. “Sensibilizado com tal problema, por já ter sido sindicalista”, o empresário, que adquiriu recentemente o edifício por cerca de dois milhões de euros, decidiu assumir a liquidação das indemnizações, estimadas num valor de 60 mil euros. Uma quantia bastante inferior àquela que foi exigida pelo Sindicato dos Metalúrgicos (SM): 250 mil euros. “Em conjunto com a antiga administração vamos fazer o levantamento de tudo, segundo a contabilidade da empresa. Desta forma, tudo o que considerarmos que são direitos dos trabalhadores serão pagos. Depois tentaremos chegar a um acordo com o sindicato, quando confrontarmos os números”, esclarece.
Os ex-trabalhadores da “Garagem de São João”, reuniram-se à porta do edifício, na passada semana, exigindo o cumprimento dos acordos do tribunal e a investigação de todo o processo de falência da empresa. “Conscientes dos seus direitos”, os antigos funcionários da firma recorreram ao SM e convocaram os meios de comunicação social regionais para exporem o caso, “para que toda a população fique realmente a conhecer esta vergonha”, queixam-se os operários. A maior indignação prende-se com o facto de os ex-proprietários da “Garagem de São João” se assumirem como credores no processo de falência.
De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos, na origem da firma, a “Garagem de São João” pertencia a Alberto Carvalho, que pagava renda à IMAIBEL, da qual também era proprietário. Em 1994, a Garagem de São João foi dividida, surgindo a C.A Pintura e Bate-Chapas. Esta era também propriedade de Alberto Carvalho, com um por cento, de Francisco Antunes, com 49 por cento, e da própria Garagem de São João, com 50 por cento. Em 2001, as duas firmas e o edifício onde estavam instaladas tornam-se património de Francisco Antunes e da sua esposa Sílvia Pereira Antunes. Para a Direcção do Sindicato, “os contornos da transmissão, a forma de aquisição, bem como os objectivos, são desconhecidos, o que levanta sérias dúvidas”.
Francisco Antunes e a sua esposa assumiram o controlo da empresa até 2003. No final desse ano, de acordo com a entidade sindicalista, terão abandonado as firmas, “deixando de pagar salários e subsídios, a que quem ali trabalhava tinha direito, criando uma situação precária aos trabalhadores e às suas famílias”, esclarece Luís Esperança, director do SM.
Também segundo este órgão, em consequência do incumprimento do contrato celebrado, Alberto Carvalho retomou a propriedade do edifício, facto que muito intriga o Sindicato: “Por que razão, com o incumprimento do contrato, só volta para o senhor Alberto Carvalho o edifício?”, questiona o sindicalista.
Há ainda a questão de 35 mil contos alegadamente pagos pela “Fiat Auto Portuguesa” a título de compensação da perda de representação da marca, e de 10 mil contos para indemnizações aos trabalhadores. Todos os bens de valor, como maquinarias de rectificação de motores, tornos mecânicos, cabina de pintura, viaturas auto, entre outros, foram vendidos pelos proprietários, já depois das firmas encerradas.
O Sindicato já manifestou a sua preocupação ao presidente da Câmara da Covilhã, Carlos Pinto, que terá concordado que se trata de um problema social e prometido falar com o proprietário do imóvel, colocando a questão das indemnizações aos trabalhadores. Até porque, segundo o autarca, “o valor das indemnizações não é nada comparado com os valores globais do negócio que está em causa”. O imóvel está já vendido a António Lopes, e segundo o dirigente do Sindicato, “à margem da lei”. O projecto já aprovado pela Câmara Municipal da Covilhã visa o aproveitamento comercial do edifício. “ O espaço vai contar com três ou quatro pisos, sendo que um deles é destinado a escritórios. O último piso será panorâmico, destinado a abranger uma zona de restauração e cafés”, explica o novo proprietário.
António Lopes garante o pagamento das indemnizações, seja através de negociações com os antigos proprietários, seja através da sua conta pessoal. “ o que eu pretendo é acabar com o problema. Há todo um jogo de interesses com o qual eu não vou compactuar. Não se justifica que hajam trabalhadores a receber o Fundo de Garantia Salarial, outros empregados, e outros ainda que fizeram acordo para o desemprego”, salienta António Lopes.
O processo relativo à empresa de pintura e bate-chapas foi suspenso pelo juiz titular e enviado para o Ministério Público para investigação. Já o processo da Garagem de São João foi arquivado.