Polis Covilhã
O que mudou?

O relógio que desde Maio de 2001 fazia contagem decrescente para o final do programa Polis na Covilhã alcançou o zero. Durante quatro anos a cidade mudou o rosto em diversas formas e em diferentes pontos. No projecto inicial ficam algumas obras, que chegaram a servir de apresentação desta iniciativa, por concluir.

Por Eduardo Alves

O relógio do Polis, passados 1550 dias, marca o fim da execução das obras

Por mera coincidência ou então pela teimosia de forças maiores, o Programa Polis vai ficar ligado a dois covilhanenses de destaque. Este projecto lançado em 18 cidades portuguesas aparece pela mão do actual primeiro-ministro, José Sócrates quando desempenhava funções de ministro do Ambiente no executivo governamental de António Guterres.
O covilhanense Sócrates desloca-se a 14 de Maio de 2001 à sua cidade natal para dar início à contagem decrescente do 17º relógio Polis a ser instalado numa cidade portuguesa. Um total de 1550 dias para requalificar a paisagem urbana do espaço compreendido entre as ribeiras da Goldra e da Carpinteira.
Este projecto desenhado por alguns dos mais conhecidos arquitectos portugueses, como é o caso de Nuno Teotónio Pereira vai sofrer graves entraves durante a passagem pelo Governo de um outro covilhanense. José Luís Arnault, que ainda chega a visitar a Covilhã num 20 de Outubro, dia da cidade, desempenhando nessa altura as funções de ministro do Ordenamento e das Cidades no Governo social-democrata chefiado por Durão Barroso. È sob a alçada de Arnault que o ministério das Cidades faz cortes orçamentais em quase todos os projectos Polis. Para agravar ainda mais a situação da Covilhã, alguns orçamentos de obras são também chumbados pelo Tribunal de Contas.
Contudo, passados mais de 1500 dias, a cidade transforma-se. Nascem espaços verdes, como o Jardim do Lago, o de Mártir-in-Colo ou o do Rodrigo, a Rotunda do Rato ganha também destaque na cidade serrana e todo o largo envolvente à Igreja de Nossa Senhora de Fátima. As vertentes mais visíveis do programa que pretendia renovar a cara das cidades, no caso da Covilhã ficou-se mesmo pelos jardins. Novos espaços verdes, onde o Jardim do Lago ocupa o topo das preferências foram surgindo um pouco por toda a cidade. Outra das mudanças mais profundas situa-se junto à Universidade da Beira Interior. O arranjo urbanístico da Rotunda do Rato e da Igreja de Nossa Senhora de Fátima são exemplos disso. Mas os atrasos também se verificam aqui. Com o relógio do Polis a zero, ainda está por acabar a recuperação de uma chaminé industrial e de toda a estrutura envolvente.
Outras tantas intervenções que pretendem revitalizar as ribeiras e a sua relação com a população da cidade, são também levadas a cabo, referem os responsáveis pelo Polis. A canalização de esgotos industriais e domésticos, e o arranjo das margens das ribeiras foram alguns dos passos dados até aqui. Ficam por concluir duas intervenções de fundo nestes pontos-chave do projecto. Os responsáveis camarários não podem ainda dizer que as ribeiras estão limpas, nem tão pouco anunciar estações de tratamento e instalações de regeneração dos ecossistemas.




Projectos por concretizar

Mas é precisamente na ligação entre as ribeiras e a cidade que o programa acaba por falhar em algumas das obras mais importantes. De entre os projectos mais arrojados para a Covilhã estavam três pontes pedonais sobre as ribeiras que atravessam a cidade. A Goldra iria contar com duas travessias e a Carpinteira com uma outra. Até há data nenhuma está sequer iniciada. Mas os passos dados nestas travessias pedonais parecem ser já muitos. Isto porque, os responsáveis pelo programa, depois de muito avançar com projectos e montagens sobre a forma e a localização das estruturas recuaram, optando por abandonar as passagens na Goldra e manter apenas o projecto da Carpinteira. Esta travessia chegou a ser considerada por alguns órgãos de comunicação social da região, como a maior ponte pedonal da Europa e tinha como função ligar a Avenida Marquês d'Ávila e Bolama ao bairro dos Penedos Altos.
O projecto acaba por terminar numa gaveta e passa para segundo plano. Começa então, no que diz respeito às pontes, a ganhar força a ligação pedonal na Goldra. Com vista a criar um acesso condigno ao novo pólo do Museu dos Lanifícios, esta ligação espera-se para breve. Inspirou já alunos de Engenharia Civil da UBI que ganharam o Prémio Secil 2005 com uma possível interpretação do que será esta ponte pedonal. Inspirou também a autarquia, que há largos meses colocou cartazes no local da obra a anunciar o arranque da mesma, mas até ao zero do relógio, ainda os trabalhos não se tinham iniciado.
Esta necessidade de criar formas de acessibilidade não se ficou pelas pontes pedonais. O Polis Covilhã previa ainda outras tantas ligações, através de elevadores mecânicos, mas nenhum deles, passados os 1550 dias da intervenção estão sequer iniciados.
Nos 175 hectares que delimitam a intervenção do projecto, aparece um teleférico que teria como ponto de partida a zona baixa da cidade, junto à Estação e ficaria ligado ao Largo de São João de Malta. A autarquia ainda leva a cabo um concurso público internacional, tendo em vista a construção deste teleférico, mas ninguém se digna apresentar propostas. Esta obra, que começou por ser um ex-líbris de todo o projecto, acaba esquecida. Não que fosse a única com o mesmo fundamento e com a mesma conclusão. No objectivo inicial de criar uma maior ligação e circulação pela cidade, o Polis propõe também uma escadaria mecânica que ligaria a Marquês d'Ávila e Bolama ao Mercado Municipal. De entre os 54 milhões de euros previstos para o orçamento de todo o projecto, também esta ligação foi arrumada e chega ao fim sem sequer ter começado.

Um segundo Polis

Os responsáveis camarários pedem mais apoios para terminar alguns projectos

Quando o relógio Polis, na noite da passada sexta-feira, alcançou o zero, a Covilhã tinha para apresentar alguns jardins e uma outra intervenção de fundo na rede viária e em novos acessos. O projecto inicial peca por verbas e pelo número de obras que deveriam ser feitas e não foram. A opinião é partilhada pelo autarca Carlos Pinto que já várias vezes tem referido “ser necessário um segundo Polis”. O chefe do executivo camarário refere que o projecto covilhanense era “arrojado” e que muitas das obras “estão em andamento”. Ainda assim, chegado à data limite, muitas outras intervenções há que ficaram no papel, outras tantas que ainda nem sequer começaram.