Recolha de alimentos
Banco Alimentar "é uma mão amiga"

“Alimenta esta ideia” é o lema de mais uma recolha de alimentos para o Banco Alimentar Contra a Fome. Porque ajudar é preciso é outro dos objectivos traçados pelos muitos voluntários que integram toda esta acção. As recolhas vão agora ser distribuídas pelas famílias mais carenciadas.

Por José Reis

Muitos dos voluntários são alunos da UBI que pretendem ajudar a comunidade

São mais de duzentas mil as pessoas apoiadas pelo Banco Alimentar Contra a Fome no nosso país. Gente a quem faltam os bens de primeira necessidade e encontram nesta iniciativa de solidariedade social a ajuda preciosa por que tanto desesperam.
Acabar com a pobreza existente entre nós é o que move todos aqueles que, no passado fim-de-semana, 26 e 27 de Novembro, se derem como voluntários a esta causa para ajudar em mais uma campanha de recolha de alimentos. O Banco Alimentar Contra a Fome – Cova da Beira esteve presente em hipermercados e supermercados da Beira Interior, sobretudo na Covilhã, em Belmonte, na Guarda, em Gouveia e em Seia, com um intuito preciso: angariar alimentos para combater a fome das famílias carenciadas.
“O Banco Alimentar da Cova da Beira apoia, essencialmente, pessoas desempregadas, famílias numerosas com baixos rendimentos, pessoas idosas. E são muitos os pedidos de ajuda que nos chegam.” As palavras são de Hugo Nobre, responsável por uma das equipas de voluntários, que acompanha todo o processo de recolha e transporte dos donativos.
O saco disponibilizado à entrada é claro, pretende-se contribuições de bens não perecíveis, como massas, arroz, bolachas, azeite, óleo, sal. A população adere como pode, com um sorriso nos lábios. “O marketing ajuda à difusão desta mensagem. As pessoas identificam imediatamente o símbolo e apoiam-nos”, salienta o voluntário, para quem “as pessoas da Covilhã são das mais solidárias do País”. “Na campanha passada, em Maio último, a Cova da Beira foi a região que registou a maior subida de donativos a nível nacional”, diz visivelmente orgulhoso.
Um feito que muito deve aos voluntários que, todos os anos, aceitam o desafio do Banco Alimentar. Este ano, foram mais de cem as pessoas que aderiram a esta causa, “muitas delas jovens universitários, alertados para esta realidade cada vez mais nítida entre nós”. Para Hugo Nobre, não há limites à solidariedade. Pela quarta campanha consecutiva, não pensa em parar por aqui: “Enquanto há vida deve haver solidariedade; não devemos olhar só para nós mesmos, não estamos sós no mundo. Um fim-de-semana entre os cinquenta e dois existentes é praticamente nada. Não custa ajudar, é por uma boa acção”, vaticina.
Sempre que pode, Maria da Conceição, 71 anos, apoia esta iniciativa, e só lamenta que não seja repetida mais vezes: “Apesar da minha pequena reforma, ajudo sempre com um pacote de arroz e uma garrafa de óleo. Quem sabe não serei eu, amanhã, a precisar desta ajuda”. Igual opinião expressa Cristina Santos, 32 anos, que diz ter “a noção exacta para onde tudo isto é direccionado. Esta é uma iniciativa credível de solidariedade social, que gosto de apoiar”.
O objectivo prioritário desta campanha era bater o recorde alcançado na anterior edição, onde conseguiram reunir cerca de trinta toneladas de alimentos. Missão cumprida. Mais de quarenta toneladas foram doadas no final destes dois dia de campanha solidária. “É indescritível o estado de espírito de todos os voluntários no final. É chegar ao armazém da Cova da Beira, na Boidobra, e ver pulos de alegria por mais esta conquista”, conclui o voluntário de sobrenome Nobre.




"Vale a pena ajudar"

“Bom dia. Somos do Banco Alimenta Contra a Fome. Quer contribuir para esta causa?” o discurso, repetido vezes sem conta, não esmorece com o passar das horas. Pelo contrário, olhar para a grande quantidade de donativos que conseguiu reunir numa manhã impele-a a continuar. “O que me move é saber que estou a contribuir para a melhoria das condições de vida de muitas pessoas”. Sónia Almeida é voluntária do Banco Alimentar há um ano. De sorriso fácil, esta futura professora de Português, 24 anos, tomou conhecimento desta campanha “através de colegas da faculdade, que recrutavam voluntários para esta iniciativa. Pensei “porque não?”, e aderi!”, conta, entusiasmada pela sua própria força de vontade. “Se cada um olhar mais para o que o rodeia e menos para o seu umbigo, verá que é possível um mundo melhor. Eu acredito nisso”, enfatiza, enquanto agradece com veemência um novo donativo. A recompensa que tira de todo este trabalho, assegura, é retemperadora: “Sinto-me revigorada e com forças para continuar a ajudar. Em Maio, estou de volta”.
A grande maioria dos voluntários tem idades compreendidas entre os 18 e os 30 anos. Muitos deles são alunos da Universidade da Beira Interior. O Pedro e o Luís são o exemplo flagrante desta realidade.
Aos 22 anos, Pedro Verão assume uma grande vontade de ajudar o próximo: “Apesar desta ser a primeira vez que adiro a esta iniciativa, era voluntário nos Bombeiros de Santo André, há dois anos”. O estudante de Medicina da UBI lamenta o desinteresse de muitos jovens quando se fala de voluntariado e solidariedade, culpando a actual sociedade de consumo pelo facto. “O voluntariado é visto como algo chato e sem proveito algum. Nada mais errado. Ao final do dia, sentes-te feliz por teres ajudado alguém. Por uma pessoa apoiada já vale a pena”, sublinha, sob o olhar atento de Luís Tavares, colega de curso, que o acompanha nesta acção solidária. Com 18 anos, o jovem açoriano não é novato nestas andanças: “Comecei no voluntariado com 12 anos, por iniciativa da minha mãe. O sismo no Faial, há seis anos, arrasou grande parte da ilha e foi necessário ajudar à sua reconstrução”, sustenta.
Tal como Sónia, também este estudante travou contacto com o grupo de solidariedade por intermédio dos companheiros de faculdade, que o levaram a experimentar, pela primeira vez, o Banco Alimentar. Mas Luís mostra-se desencantado: “O que temos até agora é bom mas não chega. Há muitas pessoas que passam ao lado de tudo isto”, esclarece. “Por vezes apetece perguntar pelo saco que lhes foi entregue à entrada”, diz, observando as pessoas que caminham, indiferentes à sua presença.
A camisola branca, com o logótipo da campanha, em tons azuis, não deixa enganar: eles estão ali para ajudar. “E não se pense que somos heróis ou deuses. Somos seres humanos que se preocupam com o bem-estar dos outros”, conclui o jovem estudante.
Heróis ou deuses são palavras que fazem Sofia Pires sorrir. A educadora de infância, 27 anos, considera que o Homem deveria ser imbuído pelo espírito da entreajuda, mas salienta que apoiar nestas datas é um primeiro passo para a concretização desse desejo. “Participo nesta iniciativa desde o início e pude conhecer muita gente com o mesmo objectivo que o meu – ajudar o próximo sem qualquer contrapartida”, elucida. Sofia lida, dia-a-dia, com situações de carência e pobreza extrema. Trabalha numa instituição de solidariedade social, “que acolhe crianças desfavorecidas de bairros pobres da cidade”. É a pensar nelas e noutras situações similares que se dedica afincadamente a esta tarefa, empilhando ordeiramente as embalagens oferecidas nas prateleiras que forram o armazém. “Prefiro o trabalho de armazém. Apesar de muito cansativo, é gratificante ver, no local, a quantidade de alimentos disponibilizados”. Sofia despede-se rapidamente. O armazém enche-se de novos produtos. É tempo de pôr mãos à obra e arrumar tudo devidamente. Antes da chegada de novo carregamento.