Entrevista com Rui Reininho, vocalista dos GNR
“A fama e o reconhecimento
das pessoas é bastante agradável”

Simpatia, generosidade e bom humor são as palavras que caracterizam o vocalista dos GNR, uma das bandas de música mais conhecidas do País e que nasceu no Porto. Rui Reininho fala ao Urbi@Orbi de como surgiu o grupo rock, do campo musical em que todo o projecto se insere e também aborda outros trabalhos. Para além da importância que atribui deste grupo na sua vida, revela ainda o que pensa da fama, destaca algumas das bandas que fazem sucesso nos tempos de hoje e conta a sua experiência pessoal no mundo da música.

Por Maria José Azevedo e Isabel Pereira



"Não largo a língua de Camões por nenhuma outra"

Urbi et Orbi – Como nasceu o grupo musical dos GNR?
Rui Reininho –
O grupo GNR nasceu numa garagem. Os dois primeiros singles correram bastante bem para as expectativas de mercado. Depois eu entrei e estraguei logo tudo, porque aquilo começou a vender pior.

U@O – A sigla GNR provocou alguma polémica na altura?
R.R. –
As pessoas já se habituaram com uma coisa e com outra. É como o caso do grupo do Sting, os “ Police ” em que ninguém proibiu o nome. Eu até me lembro de ler uma página de jornal em que o Alexandre Soares dizia: os outros que mudem de nome, logo, ninguém proibiu porque acharam uma estupidez.

U@O – Como é que têm encarado este reconhecimento público?
R.R. –
A fama e o reconhecimento das pessoas é bastante agradável. A provar isso mesmo está o facto de no ano passado termos recebido a medalha de mérito cultural do Governo, uma prova de que o nosso trabalho e nós próprios somos reconhecidos. É claro que faz parte do trabalho ser-se atormentado pelos jornalistas, mas isso é uma questão de atitude. (risos)

U@O – Que impacto é que vocês têm nos jovens para serem regularmente convidados a actuar nas semanas académicas?
R.R. –
Durante anos o grupo fez muitos concertos nas semanas académicas e nas queimas das fitas. Lembro-me principalmente de Coimbra, mas também já fomos à Covilhã. Felizmente o País evoluiu muito, porque no início só se viam rapazes nos concertos. Mas depois as raparigas, como são mais revolucionárias, mais independentes e que não têm problemas em ir estudar para aqui e para acolá começaram a mudar isto tudo e pronto as pessoas começaram a sair mais à noite e a animar mais as cidades.
É claro que hoje não temos a intenção de ter o impacto mediático que procuram aquelas novas “boys-band”. Apesar de que eu acho que este tipo de grupo não abrange muito o público académico. Isto são coisas muito cíclicas, noto que o mercado é cada vez mais difícil porque as pessoas gostam mais da onda do momento e do que está na moda. Já foi o grupo Da Weasel agora são os D'ZRT. Mas também posso dizer que a música “ Dunas ”, por exemplo, ao fim de todos estes anos ainda é reconhecida pelas pessoas.




"As raparigas são mais revolucionárias, mais independentes"


U@O – Qual o maior sucesso dos GNR até hoje?
R.R. –
Houve uma, acho eu, que vendeu muito e que passou bastante na rádio, que foi o tema “ Dunas ”. Mas as vendas não querem dizer nada.

U@O – Porque é que as letras das vossas músicas são todas portuguesas? Nunca pensaram em compor noutras línguas?
R.R. –
Gravei muitas coisas em inglês, mas o que interessa é que sou português, sonho em português, durmo e acordo em português, como em português e até posso dizer que amo em português. E é por isso que acho que não faz sentido eu transmitir algo numa língua que não se entende.
Já passei por muitas coisas. Quando era mais novo estive no curso de Filosofia Germânica, as chamadas Letras e apesar de só ter ido até ao segundo ano sei muito bem francês e espanhol e gosto muito de línguas, de ler romances, ensaios e poesia em várias línguas, mesmo assim, não largo a língua de Camões por nenhuma outra.

U@O – Como acha que seria a sua vida se não tivesse alcançado a fama?
R.R. –
Feliz (risos). Porque a felicidade depende muito das circunstâncias. É claro que esta vida de fama deu-me uma liberdade, grande liberdade, primeiro para fazer o que quero. Tenho os meus horários e a minha vida, não estou sujeito a um patrão ou ordens de qualquer tipo.
Mas também creio que a minha vida afectiva foi muito afectada. Acho que grande parte do meu divórcio tem a ver com estar muito tempo fora, faltar ao aniversário de várias pessoas, não poder estar presente no Natal, nem nos dias combinados. Isto altera muito e faz contrabalançar os aspectos positivos para lados mais negativos.

U@O – Para além da música há outra profissão que gostaria de exercer?
R.R. –
Eu gosto muito de escrever e se tivesse tempo gostava de fazer mais cinema. Ainda agora entro numa série pequenina chamada “ Bocage ”. Acho o cinema uma coisa muito porreira e sempre que posso dou uma perninha.



"A felicidade depende muito das circunstâncias"

"Durante muitos anos fizemos semanas académicas"

U@O – Qual o segredo para se alcançar a fama?
R.R. –
A fama não é a coisa mais importante. Eu tenho uma teoria em inglês: “ there's nothing up there ” não há nada lá em cima. Às vezes há uma grande solidão, mas também há pessoas que adoram fazer show, adoram as limusinas. Acho que os melhores vão para a música porque gostam desta vida e adoram tocar, cantar, os concertos e não pela fama. Por exemplo, ontem fui cantar com uns amigos galegos e como é um grupo a começar, um projecto novo, eu vi aquela força, aquela ânsia de fazer o primeiro disco, e depois é muito simpático porque é muito lisonjeiro convidarem-me.

U@O – Alguma dica para as bandas de garagem?
R.R. –
Acho que é preciso muita teimosia e depois passar aquela fase da vaidade, em que se toca só para arranjar mais namoradas ou para ser o mais giro do bairro. Mas quando a vida começa a sério essas coisas passam, porque uma pessoa tem de prescindir muito.
Ingressei nos GNR aos 27 anos e achei que eram pessoas com talento e que tinham futuro e arrisquei. É claro que tinha despesas para pagar e para ser sincero, naquela altura não contava a ninguém, mas ia a pé para os ensaios para não gastar, porque para mim ir de autocarro parecia mal. Então ia a pé desde a Baixa do Porto até à Boavista e depois de duas horas de ensaio fazia ainda mais uma hora de caminho a pé até casa, mas no dia seguinte lá estava outra vez.
É nos momentos mais difíceis que uma pessoa acredita que o projecto vai para a frente, portanto há que fazer sacrifícios e avançar.





Perfil



Rui Reininho é um dos nomes mais conhecidos do mundo musical português pós-revolução de Abril. Estatuto que alcançou como vocalista do Grupo Novo Rock, mais conhecidos por GNR, “uma forma de destacar o nome da banda que veio a provocar alguns transtornos, mais com a Guarda Nacional Republicana”.
Este “homem do Norte”, como se apresenta, veio ao mundo no dia 28 de Fevereiro de 1955, nasceu e reside na cidade invicta. Reininho entrou para os GNR “quando tinha os uns 26 ou 27 anos de idade”, recorda. Para além da música, os seus passatempos preferidos passam pelo futebol e pelo cinema. Para além disso, “gosto também de escrever”. Actualmente está a produzir a série “ Bocage ”. Há mais de 30 anos que pisa os palcos e, “bom humor e simpatia” são preceitos “que tenho sempre em mente”. Reininho dedica também grande parte do seu tempo ao filho. A relação com os Media, “nem sempre foi pacífica, até porque neste meio também existem mau profissionais”.