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Sérgio Godinho: Existem sempre razões para cantar e questionar
Tânia de Jesus · quarta, 24 de abril de 2013 · Cultura Sérgio Godinho no álbum À queima-roupa, lançado em 1974, afirmou: Só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, habitação, saúde, educação. No mês em que se comemoram os 40 anos da Revolução do 25 de Abril, Sérgio Godinho, no final da Hora do Conto, realizada na Escola Internacional da Covilhã, confidenciou aos jornalistas que muitas das suas canções se enquadram no momento presente, um momento terrível, sem igual no Pós-25 de Abril. |
"Eu gosto, acima de tudo, do ato de criar" |
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Urbi et Orbi (UO): Qual é a sensação de falar para uma plateia de crianças? Sérgio Godinho (SG): Falar para crianças é algo que me é natural, mesmo antes de ser pai, dado que sempre tive uma relação muito boa com crianças, algo que acredito que se deve à minha família e à capacidade que estes sempre tiveram de falar comigo. Por outro lado, ao longo dos anos já fiz muitas sessões deste teor, principalmente sobre o ‘Pequeno Livro dos Medos’ que foi trabalhado por muitas escolas e bibliotecas. No entanto, fazer estas sessões é sempre muito engraçado pois são todas diferentes. UO: É um motivo de orgulho o ‘Pequeno Livros dos Medos’ ter sido recomendado pelo Plano Nacional de Leitura? SG: Fico contente, porque é o reconhecimento de que o meu livro pode ter uma eficácia pedagógica e lúdica. UO: As crianças confidenciaram-lhe durante a ‘Hora do Conto’ diferentes medos. Quando tinha a idade delas também possuía esses receios? SG: Sim, eu acredito que os medos são muito universais. Claro que na altura não tinha medo de ficar uma semana sem computador, mas isso é algo específico. UO: O ‘Pequeno Livro dos Medos’ foi por si redigido e ilustrado. Como surgiu a vontade de ilustrar a obra? SG: Eu ilustrei o ‘Pequeno Livro dos Medos’, mas foi um caso irrepetível, até porque não desenho particularmente bem. Em relação a esse livro senti que conseguiria, pois tenho sempre uma grande consciência dos meus limites, nunca realizaria algo de que sentisse que me podia envergonhar e gostei do trabalho final. Tenho também um livro, que saiu há dois anos, denominado ‘Sérgio Godinho e as quarenta ilustrações’, que foi ilustrado por 40 ilustradores portugueses e que considero de facto uma mostra fantástica da ilustração portuguesa. Na altura que lancei essa obra, questionaram-me se não queria incluir-me nos 40 artistas, algo que recusei, dado que não estou nada ao nível de um ilustrador que faz disso a sua vida. UO: E a música? SG:A música está sempre presente. Há dois anos, aquando dos meus 40 anos de canções, lancei o álbum ‘Mútuo Consentimento’, e tenho realizado espetáculos, contudo este ano não estou a compor. UO: Existem diferenças entre o Sérgio Godinho escritor e o Sérgio Godinho cantor? SG: Eu gosto, acima de tudo, do ato de criar; daí que considere que não existem grandes diferenças. UO: Durante a ‘Hora do Conto’ afirmou que a inspiração lhe surge através do que “vê e ouve”. No atual contexto da sociedade portuguesa encontra-se particularmente inspirado? SG: Não estou inspirado, nasci inspirado. Acredito que tenho um património de canções que se enquadram no momento presente, nomeadamente no meu primeiro disco, a minha primeira música, denominada ‘Que Força é Essa’, bem como no meu último disco, cuja canção ‘Acesso Bloqueado’ se enquadra no que estamos a viver neste Portugal de hoje. UO: É um sentimento agridoce observar que as músicas mais revolucionárias, que lançou no período do 25 de Abril, se encontram ainda hoje em voga? SG: Eu não lhes chamaria revolucionárias, são canções que falam da vida e da sociedade, e tendo em conta que a sociedade é sempre imperfeita, existem sempre razões para cantar e questionar. Presentemente, vivemos um momento terrível. Nunca conheci um momento igual a este no Pós-25 de Abril. No entanto o mais importante é estarmos ativos. Existe uma grande crise em vários sectores, nomeadamente no mundo do espetáculo. Eu e os outros músicos dependemos muito das autarquias, devido aos teatros municipais, auditórios, e essa rede está sem dinheiro, portanto é muito mais difícil atuarmos, sobretudo os que dispõem de uma máquina mais ou menos pesada, todavia é preciso chegar às pessoas. |
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