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Peripécia Teatro abre Festival de Teatro da Covilhã
Luísa Boéssio (UNISINOS, Brasil) e Bárbara Seixas · quarta, 8 de novembro de 2017 · Continuado A pequena sala do Teatro das Beiras encheu para receber “13”, a peça original da companhia Peripécia Teatro que abriu o Festival de Teatro da Covilhã, com um tema polémico. No ano do 100º aniversário das aparições de Fátima, o espetáculo posiciona- se fortemente frente a estes factos. |
Teatro das Beiras lotou com a peça original da companhia Peripécia Teatro, “13”. Foto: Divulgação. |
21989 visitas Começou nesta quinta-feira, 2 de novembro, o Festival de Teatro da Covilhã. O primeiro espetáculo a entrar em cena no Teatro das Beiras foi a peça original da companhia Peripécia Teatro, “13”, que lotou a sala de 90 lugares. Em 2017, completaram-se cem anos das aparições de Fátima, mesmo ano em que a companhia comemora 13 anos de existência, razão do nome da peça. O espetáculo, que está em cena desde maio, causa agitação ao tocar num tema polêmico. Ángel Fragua, Noelia Domingues e Sérgio Agostinho interpretam os três pastorinhos que supostamente presenciaram a aparição da Virgem na Cova da Iria. Segundo a organização, a peça dirigida por José Carlos Garcia, “não segue uma linha narrativa próxima ao thriller bíblico, nem uma linha cómica sobre a fé paranormal. Também não segue uma linha satírica sobre o fanatismo milagreiro. A peça “13” é um nó cego entre todas estas linhas”. Fernando Sena, diretor do Teatro das Beiras, revelou que ainda não tinha assistido à peça, mas já havia escutado várias críticas. “É um espetáculo para o público gostar ou não gostar. Não é uma obra de opiniões meio-termo, é uma encenação muito forte”, comenta Sena. O diretor considera que a companhia Peripécia Teatro, sediada em Vila Real, é contestadora. “Principalmente neste espetáculo, é uma posição forte perante factos. O teatro também é isso, podermos contestar”. Para Rita Pereira, de 21 anos, a peça fez contestações atuais. “Existem muitas críticas sutis, usavam elementos interessantes e originais”, aponta Rita E para contestar, os três atores se multiplicam nos mais variados e improváveis protagonistas, além dos pastorinhos. Papa, padre, procurador, Fernando Pessoa, e até mesmo aliens, dão ao público uma visão diferente da história. A sátira encena torturas realizadas pela Igreja para com as crianças, a fim de delas confirmarem a versão religiosa dos factos. Também apresenta os esforços do Papa em tornar Fátima um local economicamente vantajoso. Na peça, a Virgem é, na verdade, um jovem extraterrestre chamado Deus que veio a terra com seus pais jogar o “Big Bang”, um jogo onde os personagens são os humanos e as ações de Deus tem interferência direta na vida da terra. Em meio a brincadeira o alien é avistado na Cova Iria. Os pastorinhos ao verem a cena acreditaram ter presenciado um milagre, a "aparição de Fátima". Daniela Mateus, estudante de Medicina, confessou que não vai ao teatro muitas vezes. Mas por intermédio de uma amiga, que já conhecia a peça, decidiu vir. “Achei que estava muito bem escrita e construída, e foi rir do início ao fim. Uma noite diferente do habitual”. Para além das opiniões favoráveis, Arlindo Dinis, 71 anos, gostou dos aspectos cênicos do espetáculo mas achou o texto um bocado abusivo. “Penso que houve adulteração da história. É uma versão deles, mas é uma forma de dizer que não gosto de parte do texto”, sublinhou Arlindo. Sérgio Agostinho, um dos fundadores da companhia e também ator do espetáculo, conta que a peça recapitula os três personagens da primeira obra realizada pela Peripécia. Chamada “Ibéria”, abordava a história da Península Ibérica de uma forma “despojada”. “Passados treze anos fecha-se uma espécie de ciclo. Fomos buscar essas três personagens e germinou a ideia para o 100º aniversário das aparições. Agora de uma forma muito mais profunda em que os personagens ganham uma dimensão maior”, afirma o ator. Segundo Sérgio, a peça é um bocadinho fraturante. “Nós notamos que durante a apresentação há momentos de tensão, em que o público se contrai. Alguns espectadores abandonam a sala”. Mesmo com reações negativas o ator destaca que a esmagadora maioria dos espectadores “reagem mais ou menos como reagiram hoje, de forma bastante calorosa”. O ator teve ainda conhecimento, através do testemunho de um rapaz que foi ver a peça com a namorada, que “ele riu-se muito e a namorada não gostou". Estavam juntos há cinco anos e separam-se por causa do espetáculo”, conta o ator entre risos. Também por causa do texto polémico, a companhia encontrou dificuldade em captar financiamento local, uma vez que neste ano ocorreram as eleições autárquicas. “Disseram-nos claramente que neste ano o espetáculo não seria programado nestes espaços e menos ainda antes das eleições. Porque poderia provocar a queda das pessoas no poder”, aponta Sérgio. A obra tem causado bastante inquietação nos espectadores, o que segundo os atores “é o objetivo da peça”. Sérgio destaca que “o papel da arte é muito esse, causar vibrações, às vezes mais subtis outras vezes não”. Tanto ele como os dois colegas da companhia dizem se sentir muito bem em causar discussão e reflexão. O Festival de Teatro da Covilhã acontece até o dia 11 de novembro. O evento conta com nove companhias, uma espanhola e as restantes portuguesas que irão se apresentar no Teatro das Beiras em treze espetáculos destinados a jovens e adultos. |
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