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"O músico, esse bicho estranho, é um ser muito fechado"
João Pedro Antunes · quarta, 2 de junho de 2021 · Cultura Pojo é o nome artístico de Pedro Rodrigues, licenciado em Cinema na Universidade da Beira Interior. |
Capa do EP “Dusk”, sob o nome artístico de Pojo e editado pela Quiet Quiet Records. |
21992 visitas Pojo é um artista com muitas paixões, destacando-se a música e a arte 3D. Além disso, é também cofundador da QuietQuiet, uma marca que é tudo menos quieta: é editora, é uma loja de samplepacks online, é uma comunidade de Discord, é um canal de Twitch. No fundo, identificam-se como “um grupo de amigos apaixonados por música e conteúdo digital”. Em entrevista ao URBI, Pojo fala sobre inspiração, o destaque no cenário musical, a importância da licenciatura na UBI e os planos para o futuro.
O que te inspirou a começar a fazer música? P – Grande parte das minhas paixões são heranças vindas do meu pai. Quando eu era miúdo, via-o a tocar guitarra e também queria aprender. Por isso, a minha mãe meteu-me a estudar guitarra clássica no conservatório, em ensino articulado. Depois de cinco anos, deixei de tocar. Porém, no meu primeiro ano de faculdade, o Gui – amigo meu – comprou uma interface de áudio e começou a fazer uma música por dia. Isso inspirou-me e deu-me inveja. Ora, pouco tempo depois, também comprei uma interface (juntamente com um microfone) e comecei a produzir música. Agora, se me perguntares o que me fez entrar especificamente no campo da música eletrónica, dir-te-ia que os principais culpados foram os Nine Inch Nails. Sempre adorei a forma como eles misturam a eletrónica com o acústico, tanto instrumentalmente como em samples ou nos efeitos de voz. No entanto, tenho deixado esse estilo um pouco de lado nestes últimos projetos nos quais tenho trabalhado.
Como descreverias a tua arte a alguém que nunca ouviu falar de ti? P - Não sei exatamente como descrever a minha arte em geral [risos]. No entanto, se estivermos a falar apenas da minha música, diria que são soundtracks para filmes distópicos imaginários. É uma banda sonora sem um filme a acompanhá-la. Eu gosto de contar histórias. Admito que, musicalmente, viro-me muito para o pós-apocalíptico por ser um tema que me intriga. Basicamente, cada vez que faço um álbum ou um EP, eu escrevo um guião: exatamente como que se fosse filmar uma curta metragem. Depois, faço uma música para cada cena da história.
A licenciatura em Cinema que frequentaste na Universidade da Beira Interior ajudou-te de alguma forma na construção de narrativas para a tua música ou para todo o processo da tua arte? P – Sim, definitivamente. Fez-me aperceber que não tenho assim tanto jeito para realizar cinema. Apesar de ter a capacidade para tal, não é algo no qual tenha assim muita aptidão. Sou melhor a ajudar nos projetos dos outros. No entanto, eu continuava a ter histórias por contar. Os projetos onde participei ou que vi acontecer fizeram-me aperceber, ainda melhor que o próprio curso, que existem outras formas de contar histórias, começando pela música. Aliás, o meu EP, o “Dusk” origina-se precisamente num guião que escrevi. Nunca o considerei bom o suficiente para acabar por ir para o ecrã mas achei que tocava nalguns pontos interessantes que mereciam ser mostrados. A narrativa está ali, no EP, de uma forma bastante críptica. Não estou à espera que alguém seja capaz de entender lucidamente o que acontece a partir da música – e isso é algo que pretendo melhorar em projetos futuros – mas só o facto da história ter sido contada já me dá alguma paz interior.
Além de música, também fazes arte em 3D. Existe alguma hipótese de eventualmente juntares estes dois mundos num só? P – O 3D é a minha paixão mais recente. Ainda não sei exatamente qual vai ser o seu propósito, mas por agora não passa de mais uma ferramenta que comecei a aprender a usar. Eu já usava ilustrações e motion graphics para acompanhar os filmes imaginários de onde vêm as músicas, sendo que o 3D é mais uma forma de pintar, digamos. Apesar disso, eu ainda penso estar no início da minha aprendizagem de arte 3D. De forma a tentar evoluir, tenho estado a trabalhar num videoclip para a música “Funeral” do meu sócio Regine, nome artístico de Gui, mencionado no começo da entrevista. Estou a demorar imenso tempo a acabar aquilo, principalmente por falta de tempo, mas ando a aprender bastante e os frutos do trabalho parecem ser promissores.
Quando a música eletrónica deu o boom em termos mainstream, existia uma desaprovação por parte de uma quantia razoável da população que afirmava não se tratar de um género musical “a sério” por “não tocarem instrumentos”. Achas que esse tipo de preconceito ainda existe? P – Eu sou defensor de que qualquer coisa pode ser música. Eu gosto de música noise, por exemplo. Mas sim, acho que esse preconceito ainda existe, apesar de existir de uma forma muito menos intensificada. Pessoalmente, eu não sofro com muitos comentários desse tipo, visto que tenho o hábito de misturar constantemente os instrumentos acústicos com os eletrónicos. No entanto, acho que as pessoas que têm esse tipo de visão não entendem o que é um DAW (Digital Áudio Workstation) e como isso já é um instrumento por si só. Um DAW requer aprendizagem e prática, tal como um piano ou uma guitarra. Apesar disso, admito que eu próprio também chego a ter alguns preconceitos. Faz-me, por exemplo, impressão ver pessoal a usar atalhos para ter uma sonoridade que não seja a deles, ou quando vejo midi packs com acordes e progressões. Apesar disso, eu vejo o ato de fazer música no computador como uma oportunidade de mais gente fazer música e eu acho isso incrível.
Outro dos teus projetos é a QuietQuiet, no qual és um dos seus cofundadores. De onde se originou esta ideia? Ouve a resposta de Pojo aqui.
A QuietQuiet investe muito em tentar encontrar novos talentos, existindo inclusive as ditas livestreams de feedback. Ao longo dessas transmissões, que artistas mais te chamaram à atenção? P - Essas streams são super divertidas. Inicialmente, recebíamos imensas submissões de EDM e hip-hop, mas à medida que o tempo passava, as pessoas foram percebendo que nós gostávamos genuinamente das músicas que eles enviavam e foram ficando. Agora estamos constantemente a receber músicas incríveis. Se eu tivesse de escolher alguns artistas, diria o ZAYLE, a EkaLaki, o Ryan Pearson e o Dr. Monkfish. No entanto, quero também mencionar outros amigos meus que também enviam música, mas que já conhecia antes da criação da QuietQuiet: GalantrOn, Fxvender, Several Noise e o Phaser.
Qual foi a situação mais caricata com que te deparaste durante uma live? P – Ui! Temos bastantes. Aliás, basta ver os clips do nosso canal da Twitch e temos praticamente uma compilação. Vou contar uma mais recente. Estávamos a fazer uma dessas streams de feedback e tínhamos a EkaLaki como convidada. Eu estava constantemente a esquecer-me de desligar o microfone e a convidada podia ouvir-me perfeitamente, mas apenas as pessoas que estavam a ver é que podiam avisar. Então, o pessoal apenas via o Guilherme e a Eka a ouvirem-me enquanto eu nem ouvia o que estava a dizer na live. Foi assim por uns dez minutos.
Por fim: que artistas mais tens seguido e consumido, ultimamente? P – Honestamente, eu não tenho tido muito tempo para andar por aí a explorar artistas novos. Acabo sempre por ouvir aquilo que o YouTube me recomenda enquanto trabalho. Porém, um dos artistas que mais me tem influenciado nestes últimos tempos é o Marc Rebillet, conhecido por fazer live looping, algo que também tenho andado a explorar. De resto, ouço os mesmos artistas que sempre ouvi: Nine Inch Nails, clipping. Por vezes, alguns dos nomes que costumam mandar música regularmente para as transmissões da QuietQuiet.
Caso estejas interessado em saber mais sobre a QuietQuiet, visita o seu site oficial ou ingressa no servidor de Discord aqui. |
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