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O pódio tornou-se habitual

 

Fátima Brito, treinadora
"Vontade e garra"

Fátima Brito trabalha a tempo inteiro na ACM há quase 10 anos. "Os Centros de Educação especial tinham um handicap de professores de educação física, como ainda hoje têm", conta a treinadora. Foi-lhe feita uma proposta e resolveu aceitar o desafio. Fez formação nas quatro áreas do curso de animadores desportivos (mental, visual, auditiva e motora), e hoje é a orientadora desportiva dos atletas da ACM da Beira Interior.
Apesar de trabalhar com José Dias desde que entrou para a instituição, e de reconhecer que o atleta é o expoente máximo a nível da ACM, Fátima Brito não deixa de referir que "noutras modalidades a associação têm outros atletas de craveira internacional como Liliana Gaspar e Luis Barbas", que na última semana disputaram, em Alicante-Espanha, os quartos-de-final do Torneio Ibérico de ténis de mesa.
Segundo a treinadora, "é preciso que estes atletas sejam reconhecidos pela região", e continua, "vai, necessariamente, ter que passar pela autarquia reconhecer que estas pessoas são atletas que, embora com suas diferenças, têm capacidades físicas suficientes para a prática do desporto e que, portanto, precisam de oportunidades, condições de trabalho e locais próprios para treino, porque", continua a treinadora, "vontade e garra já eles têm".


José Dias, da ACM da Covilhã
Um cesteiro com asas nos pés

Com uma carreira desportiva iniciada na década de 80, o atleta da ACM é um modelo a seguir. Construiu um invejável currículo onde se destacam inúmeras medalhas e vários recordes. O último foi alcançado na Suécia, onde estabeleceu a nova marca mundial de marcha em pista coberta

José Manuel Jesus Dias nasceu a 16 de Janeiro de 1970, em S. Jorge da Beira. Localidade onde todos os dias apanha o autocarro que o conduz ao Centro de Educação Especial da ACM da Covilhã. O "Zé", como o preferem chamar os amigos, trabalha no departamento de cestaria da instituição. Coloca asas em revestimentos de vime para garrafas e garrafões, trabalho que adora fazer, e que, segundo o próprio, "é mais fácil do que marchar e correr".
A sua actividade desportiva começa em 1987, ao representar a equipa de futebol da ACM nos "Special Olympics" em Viana do Castelo. Nesse ano a equipa alcançou um modesto 7º lugar, mas no ano seguinte, em Coimbra, Dias foi considerado o melhor guarda-redes da prova.
Em 1989 o atleta deixa o futebol e dedica-se ao atletismo. Nos "Special Olympics" de Tomar, conquista o primeiro lugar na prova de 1500 metros. Estava dado o mote para uma brilhante carreira no atletismo, pois desde esse dia até hoje o seu currículo desportivo mais não é que um avolumar de vitórias e de recordes, quer a nível nacional quer a nível internacional.
O seu feito mais recente foi alcançado no último Campeonato do Mundo de pista coberta, realizado em Bollnas - Suécia, entre 7 e 13 deste mês. Dias alcançou o primeiro lugar da prova estabelecendo uma nova marca internacional: 16 minutos e 10 segundos, recorde que perseguia há dois anos.
"Treinei bastante", justifica o atleta da ACM que agora está parado, por força de uma lesão no joelho contraída na última prova, e a recuperar para o próximo Grande Prémio Internacional de marcha atlética, a disputar em Abril próximo em Rio Maior.

A Selecção e as Olimpíadas

Segundo Fátima Brito, treinadora de José Dias e de outros atletas da associação, a prestação do marchador na Suécia "foi beneficiada por todo um projecto de trabalho e um trajecto evolutivo desde que começou a treinar". José Dias iniciou-se nos 1500 metros e foi subindo progressivamente para os três mil e para os cinco mil metros, "nunca descurando as distâncias mais pequenas", continua a treinadora, que adianta ainda que o atleta "tem capacidade para avançar até aos 10 mil metros".
José Dias, que até preferia ser jogador de futebol na sua equipa preferida, o Sporting da Covilhã, é neste momento uma unidade fundamental na Selecção Nacional de "atletismo adaptado" e o expoente máximo a nível de marcha. Isto porque a Polónia e, mais recentemente, a Espanha são, juntamente com Portugal, as grandes potências europeias de atletismo adaptado. "Uma vez que nem a Polónia nem a Espanha têm grandes marchadores", explica Fátima Brito, "o José torna-se num elemento essencial para amealhar pontos para a classificação colectiva final".
Quanto à participação de José Dias nos Jogos Olímpicos de Sidney, tudo depende da decisão do Comité Olímpico de formalizar a marcha atlética como modalidade olímpica para desporto adaptado. A treinadora mostra-se, neste aspecto, optimista, uma vez que a modalidade já foi formalizada para os campeonatos europeus e mundiais.

Treinos na Guarda

Uma das grandes mágoas quer dos atletas quer da treinadora e do presidente da ACM, Joaquim Gaspar, é a inexistência de um estádio ou um pavilhão na Covilhã para que atletas como José Dias possam treinar.
Sempre que se aproxima uma prova, ele e a treinadora têm que se deslocar à Guarda ou a Rio Maior, quando se trata de estágios da Selecção Nacional, para fazer a preparação física em condições aceitáveis, ou então fazer os seus treinos habituais em estrada.
"A cidade não possui infra-estruturas onde se possam desenvolver, não só a marcha, mas também outras modalidades para o desporto adaptado", lamenta o responsável máximo da associação, que revela ter solicitado, por várias vezes, ajuda à Câmara Municipal da Covilhã sem que, completa, "os nossos pedidos e reivindicações tenham sido ouvidos". Por esta razão, a ACM depende das contribuições anónimas de algumas empresas da Região.

Alexandre S. Silva
NC / Urbi et Orbi






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