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Trânsito Local

Trânsito Local esteve na secção competitiva de realizadores na última edição do Fantasporto


POR RAQUEL FRAGATA


"Trânsito Local foi um dos filmes portugueses apresentados na última edição do FantasPorto, Festival de Cinema Fantástico. Conta uma estória com muitos crimes, mas pouco sangue. "Uma comédia negra", define o realizador de cinema estreante, Fernando Rocha. O filme está em negociação para a comercialização através da distribuidora Lusomundo, e dentro de um mês poderá estar em exibição nas salas de cinema.

Fernando Rocha está ligado há vários anos à edição discográfica, mas não só. É proprietário da Numérica - Editora Livreira, Discográfica e Videográfica, Lda. Pelos seus estúdios, equipados com alta tecnologia digital e analógica, já passaram os Repórter Estrábico, os Tarântula e os Tédio Boys para gravar "Porkabilly Psychosis". Para trás ficaram muitos trabalhos com artistas populares e outras tantas cassetes. A aposta discográfica para 2000 são os Feed, que estão em gravações do álbum a lançar este ano.
A viragem, que poderá não ser mais do que uma viagem, de Fernando Rocha para a Sétima Arte resulta de um sonho e do investimento próprio com poucos apoios.

Subsídios e apoios

"Trânsito Local" é o perfeito exemplo do cinema 'low budget'. Totalmente filmado em Handycam, HI8, foi produzido com o esforço na redução dos custos. O orçamento inicial de "Trânsito Local" foi de apenas cinco mil contos, que em parte foram financiados pela Câmara Municipal de Santa Maria da Feira. O ICAM - Instituto de Cinema e Artes Multimédia tardou em atribuir o subsídio de 10 mil contos, que só surgiu na altura de transcrever o filme para película de 35 milímetros. A transcrição foi feita pela empresa suíça Swiss Effects.
Com 15 mil contos, não se puderam entregar a grandes luxos, como sejam efeitos especiais ou pagar aos actores. Ao elenco foi-lhes proposta a participação no filme com a certeza de que as verbas não cobririam os caches. Gostaram do guião, aceitaram integrar a equipa e rumaram ao norte, mais precisamente a Paços de Brandão onde rodaram as filmagens.
"Alguma da imprensa nacional teceu críticas ferozes e mesmo arrasadoras quanto à perspectiva do resultado final", refere o realizador.
Paços de Brandão, no concelho de Santa Maria da Feira, é a terra natal do realizador e de alguma da equipa técnica que fez o filme, estreando-se também estes na produção de cinema. O som foi entregue a um dos colegas de Fernando Rocha na Numérica; o guarda-roupa e assistência de continuidade a uma estilista amiga e a iluminação a um fotógrafo que nunca tinha trabalhado em cinema. "Com uma câmara de 300 contos, um computador de 400 e um programa de edição não linear de 100 contos , ou seja, com mil contos, qualquer pessoa pode Ter uma base para fazer cinema. A revolução digital que ocorreu no áudio vai acontecer também na imagem. Isto quer dizer que o cinema pode ser democratizado", afirma Fernando Rocha.
Aquando da apresentação de "Trânsito Local" no FantasPorto o público pôde assistir a uma obra inacabada, ainda no formato Hi8, com um intervalo ao fim de meia hora para trocar cassete e sem tratamento sonoro. A banda sonora foi feita em apenas uma semana, pressionados pelo prazo do Fantas. "Tive de encontrar uma solução para o arranjo musical que fosse rápida. A ideia foi trabalhar com três músicos capazes de debitar em tempo real, e em função das imagens que estavam a ver, uma composição que retratasse a atmosfera do filme", explica Fernando Rocha.

Sobre Trânsito Local

O argumento é de José Pinto Carneiro. A estória gira em torno do personagem Manuel, interpretado por Toni Lima, que acaba de cumprir uma pena de cadeia de 12 anos e cinco meses pelo assassínio à facada de dois irmãos, devido a negócios mal acertados. Por detrás das suas insuspeitas funções como jardineiro, Manuel cumpre ordens do seu patrão, a quem ampara os negócios mais escuros e os crimes mais sujos. Parte da acção desenrola-se à volta de um negócio de droga que põe frente a frente Zé Pedro (Rui Reininho) e Zé Carlos (Paulo Gonzo).
Com a falsa inocência e bondade aparente, Manuel consegue enganar todos. A família, a namorada, a Lei, a Justiça e a própria Igreja, todos parecem preferir acreditar no nublado e incerto. Até quando se espera um desenlace contrário à sorte de Manuel alguém resolve fechar os olhos.
"Trânsito Local" é também um pouco o retrato do modo de vida e dos jogos de poder das pequenas vilas e aldeias.
Brevemente na tela poderão ver entre outros Maria D'Aires, conhecida do público pela participação em "Mortinho por chegar a casa" do realizador Carlos Silva, Paulo de Carvalho, Pedro Lima, António Vitorino d'Almmeida e uma jovem e promissora actriz, Carla Maciel.

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