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M. C. Escher
Queda de
Água
POR PEDRO HOMERO

Já toda a gente viu quadros de Escher, falar da obra deste autor parece despropositado e até 'demodé'. Seja.
Acontece é que a obra deste holandês pacato revela-nos um pouco do grande mistério universal em que nos meteram, ou pelos menos mostra o modo como os humanos entendem esse grande desconhecido.
A obra de Escher relaciona-se, se bem que só a partir de uma certa maturidade do homem e do artista (e não são a mesma coisa?), com a matemática e a geometria. Ou melhor, parte destas ciências e descobre mundos fantásticos, tão fantásticos que os hippies supunham-no um consumidor de ácidos (!) e no entanto tão verosímeis e matematicamente correctos quanto é possível numa ciência 'exacta'. Assim, os objectos 'absurdos' e as paisagens 'irreais' são na realidade projecções artísticas de base científica rigorosa.
No exemplo apresentado, 'Queda de Água', um estranho e (logo) belo moinho de água bule com os nossos sentidos: então mas a água sobe ou desce?! Os nossos olhos dizem-nos que sobe porque 'cai' lá de 'cima', mas um olhar atento aos tijolos que ladeiam o percurso da água sugerem que esta está cada vez mais para 'baixo'. Eis a nova percepção do 'rigor' matemático que surge no séc. XX, nas mãos dum 'simples' desenhador. Tudo isto num cenário ao mesmo tempo verosímil e familiar (as casas do sul de Itália, tão queridas ao pintor, e a senhora que pendura a roupa num gesto rotineiro) e fantástico, com um jardim puramente imaginado.
Tudo isto leva a pensar na relação existente entre as ciências exactas (ou não-tão-exactas-assim) e as artes - as linguagens universais por excelência fundem-se num esperanto visual apelativo e 'verdadeiro' ao criar, utilizando a impressão ou raspagem e o rigor matemático, o espanto na pessoa que admira a obra, um assombro semelhante ao do humano pré-histórico perante o fogo.
Assim temos um Xamã reservado e meticuloso que, ao sabor do gosto ocidental do século XX, cria imagens de sonho (uma admiradora acreditava à força que, em determinado quadro, Escher 'queria' representar a reencarnação) com base em conceitos não só palpáveis como rigorosos.
Por outro lado, e como que a negar tudo isto, o autor mostra como é falacioso o julgamento dos nossos sentidos, pondo à prova não a verdade científica mas aquilo que concebemos como tal.
Conclusão: revele-nos a sua obra um pouco do mistério do universo ou apenas a nossa visão neste canto da via láctea, Escher tem a glória de tornar interessante a matemática (a um nível) e de nos desafiar a desconfiar das nossas certezas.

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