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Museu de Lanifícios organiza encontro com antigos operários

Juliana Reigosa em quarta, 25 de abril de 2018

Memórias sobre trabalho em fábricas de lanifícios da Covilhã marcam atividades no Dia Internacional dos Monumentos e Sítios

Ex-operário, Jorge Trindade contou como era o trabalho em lanifícios a pequenos estudantes.
Ex-operário, Jorge Trindade contou como era o trabalho em lanifícios a pequenos estudantes.

Para comemorar o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, celebrado em 18 de abril, o Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior (UBI) organizou uma série de atividades com antigos trabalhadores de fábricas do setor. A Real Fábrica Veiga, um dos núcleos do espaço museológico, foi o palco do “Encontro Intergeracional” subordinado ao tema “A Vida na Fábrica”.

Sob os olhares atentos de alunos do agrupamento de escolas A Lã e a Neve, o debuxador Jorge Trindade foi responsável pela primeira palestra, intitulada “No Trabalho”. O senhor Trindade, como é chamado, levou as crianças de 4 a 6 anos para um passeio entre as máquinas do museu, contando como era o trabalho em torno da lã. O ex-operário, que toda a vida trabalhou com desenhos em tecidos, explicou que as atividades nos lanifícios muitas vezes eram familiares, já que contavam com a presença de mães, pais e filhos. “A mulher trabalhava na roca de fiar, as crianças nas caneleiras e os homens no tear”, ressaltou.

Ao mostrar uma caneleira, Jorge Trindade exemplificou como essa parte do trabalho era executada por crianças. “O miúdo estava atrás e o tecelão ficava à frente, puxando os fios, o que se chama de ‘dar fios’”, explicou. “Esse era o primeiro trabalho que se fazia quando se entrava numa fábrica. Hoje, isso já não é necessário, pois é feito em máquinas”, acrescentou o debuxador.

Nascido na Covilhã, Jorge Trindade começou a trabalhar aos 11 anos, na década de 1950. O debuxador ressaltou que naquela época, a vida de um operário era muito difícil. “Durante mais de 40 anos, vivemos numa ditadura terrível. Era complicado até mesmo organizar cooperativas de operários”. Ainda de acordo com o operário, outra dificuldade era que as fábricas portuguesas não exportavam praticamente nenhum produto. “Os lanifícios trabalhavam apenas com o mercado interno e estavam sujeitos à concorrência entre as confecções”, destacou.

O desenvolvimento tecnológico também foi abordado por Jorge Trindade. Durante o passeio pelo Real Fábrica Veiga, o debuxador mostrou aos pequenos estudantes a evolução tecnológica da atividade do operário: desde grandes caldeiras e teares enormes, cujo trabalho era feito manualmente, até máquinas cada vez mais complexas, que mecanizaram e aumentaram a produção de lanifícios.

Jorge Trindade contou que o desenvolvimento tecnológico o fez aperfeiçoar as técnicas de trabalho, de modo que se rendeu ao uso de softwares para o desenvolvimento de desenhos em tecidos. No entanto, segundo o debuxador, os seus colegas continuam “atrasados”. “Se já há ferramentas digitais, por que ainda fazem os desenhos à mão?”, criticou.

Neste ano, o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios teve como tema “Património Cultural: de geração para geração”. Para Jorge Trindade, é importante que o Museu de Lanifícios continue valorizando datas como essa e organize programações específicas para levar o público ao local. “Se essas atividades se tornarem rotineiras, é possível que tenham impactos para o museu”, ressaltou.

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