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Alcino Couto


O valor económico das ideias

Todos os que se interessam pelo estudo dos fenómenos económicos, em particular pelas fontes do crescimento económico, habituaram-se, desde hà muito, a assimilar os argumentos convencionais que os manuais de economia apresentam sobre o assunto: a criação de riqueza depende da dotação dos factores produtivos capital, trabalho e terra. Independentemente do poder explicativo e eficácia heurística, certo é que o não tratamento explícito do conhecimento faz-nos ficar "prisioneiros" do mundo tangível da economia.
A afirmação crescente de conceitos como Economia do Conhecimento e Economia da Informação reflecte profundas transformações na economia real e nos fundamentos teóricos quanto à sua organização. Colocam em evidência o predomínio da base intangível nas economias contemporâneas e a sua capacidade para determinar o desempenho económico relativo dos indíviduos, empresas, organizações, regiões e países.
Por razões de maior simplicidade, consideramos as ideias o fermento da pujança do sector imaterial da economia. Tratar-se-à de um novo fenómeno? Ou é produto de um novo contexto que favorece a sua visibilidade e crescente magnitude?
Contrariamente ao que podemos depreender do tratamento dado pelos manuais, não nos encontramos perante um novo fenómeno, uma nova força económica, mas sim em face da visibilidade de novas formas e intensidade de manifestação de um ingrediente da maior centralidade no processo económico.
Já Adam Smith reconhece, em 1776, a importância económica das ideias ao referir-se à capacidade singular dos philosophers or men of speculation em combinar poderes impulsionadores do progresso da sociedade. Por sua vez, para Schumpeter o empresário dinâmico constitui o protagonista central da actividade económica e as ideias a energia desse desempenho, o fermento do processo de destruição criativa. É a ideia que permite não só estabelecer uma relação técnica e económica bem sucedida entre factores produtivos, bem como estimular a dinâmica de mudança.
No contexto da globalização, que se caracteriza por elevada mobilidade dos factores tangíveis, o que tende a diferenciar o desempenho das economias é a capacidade para os combinar de uma forma singular. A evidência empírica ensina-nos que economias com um esforço similar de crescimento em factores físicos conhecem trajectórias de desempenho muito diferentes. Entre a constelação de variáveis explicativas, ocupa lugar de relevo a capacidade de criar e gerir novas ideias e de as valorizar economicamente com sucesso.
As fontes de criação de novas ideias são diversas. Podem resultar de actividades formais, como a educação e a investigação, de actividades informais, como contactos interpessoais, ou da experiência empírica. Elas podem ainda ter uma origem interna ou externa. Podemos afirmar que as novas ideias correspondem, na generalidade, a uma síntese criativa de conhecimentos disponíveis ou destes com novos conhecimentos.
Assim, o investimento em prospecção constitui a componente mais importante do esforço realizado pelo sector produtor de ideias. Os Estados Unidos dedicam uma parte substancial do seu orçamento em investigação e desenvolvimento à análise e assimilação do estado da arte. O que distingue fundamentalmente os países não é a capacidade de criação autónoma de ideias, mas a sua competência, a qualificação dos recursos humanos e das organizações para se inserirem em redes globais, assimilar e desenvolverem criativamente ideias com origem em contextos diversos.
O ciclo de vida das tecnologias caracteriza-se por uma crescente estabilização de saberes específicos. As diferentes economias posicionam-se de forma diferenciada nos diferente estádios que vincam a sua trajectória. O importante é ter presente que uma maior capacidade de criar valor e riqueza não se baseia na adopção de uma lógica de extensão das ideias, reproduzir modelos de aplicação existentes, mas sim na sua utilização criativa.





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