Ovos, coelhos, amêndoas
e que tais
Não é novidade
que ao longo dos anos, a Páscoa, festa de tradições
vetustas, foi sendo secularizada e comercializada. Os símbolos
mais evidentes da comercialite aguda que ataca todas as quadras
festivas, ovos, coelhos e amêndoas, não são,
porém, necessariamente criações modernas.
A reforçar o carácter ambíguo da festa está
o facto das celebrações da Páscoa, que,
embora em datas diferentes, envolvem cristãos e judeus,
terem mantido sempre resquícios das antigas celebrações
pagãs da Primavera. É até provável
que, numa tentativa de cristianizar esses ritos arcaicos, mas
extraordinariamente arreigados, a Igreja tenha optado deliberadamente
por colar a Páscoa aos festivais da Primavera, procurando
assim diluir o carácter pagão de tais celebrações,
o que efectivamente viria a suceder com o correr dos tempos.
Antes de 325 d.C a Páscoa, consoante a região,
era celebrada em dias diferentes da semana, incluindo quinta,
sábado e Domingo. Nesse ano, o Concílio de Niceia,
convocado por Constantino, estabeleceu definitivamente o calendário
pascal. Trata-se de uma das muitas festas móveis celebradas
pela Igreja Católica, e a fixação da data
em que se realiza está estreitamente relacionada com a
festa da Epifania, conhecida popularmente com o nome de Reis.
Esta ocorre no mês de Janeiro, em dia que varia todos os
anos, fixando-se, a partir dela, o restante calendário
litúrgico das festas móveis: Entrudo, Quaresma
- o período de 40 dias que antecede a Páscoa -,
Pentecostes e Corpo de Deus.
Um dos símbolos mais fortes da Páscoa é,
evidentemente, o madeiro ou cruz, que simboliza a crucificação
e morte de Cristo, opondo-se à Ressurreição;
e com o passar do tempo tornou-se praticamente o símbolo
oficial da cristandade.Já a tradição do
coelho da Páscoa, afanosamente vendido pelo marketing
moderno, radica nas origens pagãs dos festivais da Primavera
que a Páscoa veio substituir. Nessas festas, os povos
ango-saxónicos veneravam o coelho - animal proverbialmente
prolífico - que era visto como símbolo da deusa
que regia a fertilidade e a renovação que ocorre
na quadra primaveril.Os ovos de Páscoa são outro
costume de sabor pagão que acabou por integrar a forma
como os católicos celebram a Páscoa. Na maioria
das culturas primitivas, os ovos eram vistos como símbolo,
novamente, de renovação e fertilidade, e era costume,
nos festivais de Primavera, conhecidos, amigos e vizinhos trocarem
ovos entre si como presente. Mais uma tradição
cara aos povos anglo-saxónicos, que acabou por contaminar
toda a cristandade. Hoje as crianças cozem-nos, pintam-nos,
oferecem-nos e, sobretudo, deliciam-se com as modernas versões
de chocolate.
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