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Tia Suzana, meu amor
POR CARLA LOUREIRO


 " (...) Eu gostava muito de estar na cama com a tia Suzana. Ela dava-me beijos e sentia que as suas mãos, a passarem-me pelo corpo, eram uma espécie de acompanhamento das coisas que ela me dizia. Às vezes nem falávamos: ficávamos ali, juntinhos, e eu também lhe fazia festas por cima da camisa de dormir. (...) Mais tarde, quando vi a confusão que as pessoas fazem com o corpo lembrei-me de como tudo aquilo era tão diferente: era uma coisa simples e inocente como é tudo o que manda fazer a natureza. Ainda hoje acho que as pessoas, quando gostam umas das outras, deviam fazer-se festas e arranharem-se nas costas, assim, devagarinho (...). Não percebo porque é que arranjaram tantas trapalhadas com estas coisas do corpo. O corpo fala tanto como as palavras mas as pessoas, como deixaram de respeitar as palavras, também não respeitam o corpo (...) "

Ao folhearmos esta obra, ficamos com uma sensação de verdadeiro bem-estar, talvez pela linguagem simples e pura, ou ainda por retratar um universo que nos é familiar, nem que seja pelas histórias que os nossos avós nos contavam. Tia Suzana, Meu Amor traz-nos toda a comunicabilidade de uma escrita sedutora, feita de registos subtis acerca de um tempo, também ele lento, tal como a paixão de um jovem beirão pela sua tia. É esta paixão que corre todo o texto como uma suave melodia, como uma estranha brisa, calma, para, na hora certa, decifrar o mistério da memória. Mais um grande sucesso de António Alçada Baptista.


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