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Louise Nevelson
O poder encantatório da transformação
POR CATARINA MOURA

Entre os anos 30 e 50, a ousadia do Novo Mundo era o contexto ideal para os artistas europeus que ali se exilaram, muitos deles fugidos à guerra e às perseguições nazis. Entre eles encontrava-se Louise Nevelson, que nascera Leah Berliawsky em 1899, perto da ucraniana Kiev.
A arte de Louise Nevelson está embebida do poder encantatório da transformação. Partindo da assemblage [montagem] como princípio condutor, Nevelson juntava peças de materiais diversos, oriundos do mundo real, através da colagem e do bricolage, na convicção de a tudo poder dar vida.
Reciclar era para si uma forma de ressurreição. Ao passar pelo filtro transformador da mente do artista, qualquer objecto quotidiano se transformaria em ouro alquímico. Esta associação materialismo / idealismo conduziu-a á descoberta de formas de expressão tão ricas e variadas como a arte tribal, religiosa e mística, que influenciaram decisivamente o seu percurso.
Apesar da libertação e do sentido de construção que a assemblage conferia à sua obra, era ao desenho que voltava sempre, como espinha dorsal do seu trabalho. Embora seja mais conhecida pelas suas esculturas negras e cerâmicas, a obra de Nevelson é enriquecida pelos desenhos, que remontam sobretudo a uma primeira fase do seu crescimento como artista. Actualmente, estes desenhos constituem peças de grande valor devido à sua raridade, pois foram poucos os que sobreviveram à destruição pela artista, que procurava lugar dentro de si para outras realizações.
Fossem desenhos, relevos, esculturas ou cerâmica, todos os seus trabalhos transmitem uma sensação de espaço. A partir dos anos 40, altura em que a sua carreira começa a desenvolver-se, as suas montagens dão mesmo lugar a esculturas ambientais, "onde se podia entrar".
A obra de Louise Nevelson, incluindo os raros desenhos da primeira fase da sua carreira, esteve recentemente exposta na Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva, integrada no Ciclo Amigos de Arpad e Vieira da Silva. Uma amizade que nasceu em Nova Iorque, fruto da admiração e da mútua identificação com o trabalho do pintor uruguaio Joaquín Torres Garcia.
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