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José Geraldes*


Questão de Confiança

A confiança é a base de toda a relação humana. E a pedra de toque em toda a vida social. Na empresa ou em qualquer serviço, actividade, clube, instituição, partido político, igreja, família.
Não há iniciativa eu possa avançar sem confiança. O casamento assenta numa confiança que gera fidelidade mútua. E lhe dá estabilidade. E o faz construir um amor de onde foge a rotina.
A confiança integra em pleno a cidadania. Ou seja, faz parte dos direitos e deveres de cada um. Mas confiar não se reduz a simples delegação de representação. Trata-se de uma atitude activa que leva as pessoas a assumir as suas responsabilidades de forma consciente. E isto em todas as funções, quaisquer que elas sejam.
A confiança leva à partilha, no sentido de paradoxo que lhe atribui Chesteton: "Se dois vão juntos e ó um leva um guarda-chuva, têm de partilhar o guarda-chuva. Se nenhum dos dois leva guarda-chuva, têm de partilhar, com alegria e bom humor, o facto de se molharem".
O acto de murmurar, que não se identifica com a opinião, quebra a confiança. Daí que haja regras a respeitar. Lopez Caballero sintetizou estas regras, em linguagem simples e concreta.
Assim, toda a murmuração que é crítica deve fazer-se frente a frente. E não em atitude de hipocrisia. E à pessoa em questão e em privado.
A crítica evita as comparações com outras pessoas. Critiquem-se os factos, nunca as intenções. E de forma específica, objectiva, não exagerada nem generalizada.
Um princípio a observar é não repetir a crítica já feita. E saber escolher o momento próprio para o fazer. O ideal será logo que aconteça o facto criticável.
Só se pode levar à crítica o que se comprovou com factos. Criticar a partir de boatos, suspeitas e atribuição de intenções torna-se injusto e sobretudo muito perigoso, no domínio da confiança.
Norma de bom senso: antes da crítica, colocar-se nas circunstâncias do criticado.
Um velho ditado serve de bússola para orientação: "Deus me livre de julgar o meu irmão sem ter calçado um mês os seus sapatos".
Mas a confiança social vai muito para além da murmuração. Franis Fukuyama, pensador conhecido dos Estados Unidos, diz que a confiança "através do trabalho em grupo e da cooperação com parceiros de negócios cria novos laços sociais, regras e valores". E acrescenta que, face ao egoísmo, "competição e cooperação não podem ser dissociadas". Donde a necessidade de as pessoas, sem reservas, terem de confiar umas nas outras para se obterem resultados de ordem económica e ética.
Inquéritos recentes manifestam que a confiança já conheceu melhores dias. À pergunta "confia nos outros?", dois terços dos americanos respondem que não. Há 25 anos, a resposta era sim. 76 por cento dos portugueses afirmam que "nunca se é cuidadoso demais com os outros". E, dado curioso, no mais recente barómetro da opinião pública portuguesa, a confiança vi em primeiro lugar para os jornalistas, depois para os professores de todas as profissões, e em último lugar para os políticos.
Que fazer para que cresça a confiança na sociedade? A resposta afirma-se simples: começar pela família e pela escola. Na expressão do filósofo Michel Renaud, "a família surge como o meio onde a confiança se vive, se ensina, se pratica, enquanto resposta ao tempo e enquanto vitória sobre o tempo". A vida, afinal, é uma questão de confiança.

*NC / Urbi et Orbi






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