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Pedro Homero


Para trás é que é o caminho

Até porque o presente cheira demasiado a ficção para ser realidade e o futuro parece que já chegou mesmo e eu tenho preguiça e não estou para aturar todas as geringonças pós-pós-powder-my-nose-modernas, e é tudo tão rápido, que rodopio, mas quem disse que eu queria isto tudo, vamos lá acalmar, para trás é que é o caminho. Para mim, bien sur.
Mais calma. Mais devagar. Um passo de cada vez. Cada dia, um dia. Não estou para ser engolido no vortex RGB. Quero regressar ao tempo em que os objectos e o tempo eram mais verdadeiros. Em que um disco era em vinil e não em cd e por isso não era reproduzível. Boa Benjamin, agora começas a fazer sentido na minha cabeça (demorou...).
Porque se tudo é imitável de modo a ser difícil distinguir o original da cópia que será feito de nós, que há muito deixamos de ser caçadores-recolectores para nos transformarmos em instalações de reciclagem/ruminagem dos objectos. Temos overdose de informação e parece que tudo acontece só aos outros e temos subdose histórica e parece que não acontece nada nesta geração, estamos anestesiados mas também não contem comigo para sair da cama, que se está aqui tão belo caramelo, e o sol já voltou e quero ir à praia e redescobrir o prazer de uma tarde sem electronicices.
Quero 'real McKoy'. Quero sentir que estou vivo e que não sou um peão nas mãos da SoNintendOlivettInteLinuXfiles e sou tão feliz quando ponho o gira-discos a rolar, com Jefferson Airplane a pairar ou o último dos Air a fazer-me chorar (mas também dançar) e não é em mp3, é em pvc preto, pois a música está mesmo lá, não são zeros e uns e o cinema é em película não é em vídeo e 'bora ver um filme que a internet já chateia e mil vezes a felicidade nas pessoas que a falsa ilusão de que os objectos acabam com a nossa solidão. Para trás, devagar, que o estômago não aguenta e a úlcera já remexe. E já agora a cantarolar 'video killed the radio star'.





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