.


.

 


Gustavo Mendes

 

Destino

Forte, bonito, olhar inocente e uma expressão doce é a imagem que fica quando se conhece o Gustavo. Apesar das adversidades que tem sentido na sua vida, ele conserva um espírito alegre e contagioso. "Não perder a esperança" faz parte da sua filosofia de vida.
A próxima meta a atingir é a compra de um automóvel devidamente ajustado à sua paraplegia. A autonomia que o automóvel lhe irá proporcionar, como diz Gustavo," tem um novo gosto a independência". Independência esta que libertará o pai das suas actuais funções.

U@O - De que forma o automóvel o tornará autónomo?

Gustavo - Deste modo poderei deslocar-me sem dificuldade para qualquer local. O meu automóvel vai estar adaptado às minhas capacidades, poderei conduzi-lo sem problemas.

U@O - Quais são os principais obstáculos que enfrentas na Covilhã?

Gustavo - A falta de acessos para quase todo o lado que vá. A fiscalização é também muito importante, porque algumas instituições apesar de construírem edifícios a pensar nos deficientes motores, muitas vezes esquecem pequenos pormenores que se revelam verdadeiras barreiras. Como é o caso do pólo das Engenharias que, construído hà apenas um ano peca por defeito. Em qualquer anfiteatro eu fico à porta porque há um degrau mesmo no cimo da sala.

U@O - A universidade de Aveiro tem melhores condições para paraplégicos. Qual foi o motivo que te fez voltar à Covilhã?

Gustavo - Aqui estão os meus amigos, que me têm apoiado sempre! Em Aveiro, ou noutro sítio, seria começar de novo, e já demasiadas mudanças ocorreram na minha vida.


Na UBI Gustavo luta para ser igual por ser diferente
Mobilidade a quanto obrigas

POR TÂNIA PINTO

Aos 21 anos o Gustavo ficou paraplégico num acidente de viação, e hoje desloca-se com o auxílio de uma cadeira de rodas. Uma vida que a partir dessa altura teve que mudar de forma radical. Gustavo não pode ainda contar com a ajuda das diversas instituições para poder vencer as barreiras que se impõem à sua readaptação à cidade da Covilhã. Se algumas coisas já foram feitas, muito há ainda para fazer.

São 9 horas da manhã e Gustavo, antigo jogador de Basquetebol, prepara-se para vencer mais um dia de estudante universitário. À porta do prédio espera-o o pai que o conduz todos os dias à universidade e onde quer que precise de ir.
Chegados à UBI, começam os desafios. O degrau de entrada é já o primeiro. Mais alto que os normais, não permite ao Gustavo passá-lo sem dificuldade. A sua estatura também não ajuda, e o risco de desequilíbrio é grande ao fazer o chamado "cavalinho" com a cadeira de rodas.
Hoje é dia de trabalho de campo para o segundo ano do curso de Engenharia Civil, as aulas serão ao ar livre, e para lá chegar a ajuda do pai já não é chega. Vão ser precisos dois colegas para Gustavo poder subir os sete degraus que o separam da aula.
Chegou a hora de almoço e as alternativas não são muitas. Vai ter que percorrer quatro quilómetros para ao snack-bar do Pólo das Ciências Sociais e Humanas, uma vez que quer a cantina de St António, quer a da Boavista não têm rampas para cadeiras de rodas.
O próximo destino são as aulas da tarde no novo Pólo das Engenharias, edifício construído à cerca de um ano, e que respeita a legislação de 1991 que obriga os edifícios públicos a cumprirem regras de acessibilidade. Vai ser uma aula aberta, graças ao Gustavo. Sozinho não consegue passar do primeiro degrau, por isso, fica no topo do anfiteatro o que impede a porta de fechar.
Acabou o dia de aulas e o pai espera-o para cumprir o ritual, levando-o de volta a casa. Enquanto o pai prepara o jantar, ele vai até ao pavilhão matar saudades dos antigos treinos, driblar a bola e fazer alguns lançamentos.

"A vida é para se ir vivendo"

Cheio de esperança e boa disposição, o pai do Gustavo acompanha o filho para todo o lado. "Sem a minha ajuda o Gustavo não poderia continuar a estudar", explica.
Mário Marques tem licença de trabalho temporária do Hospital de Torres Novas, o que possibilita a sua estadia na Covilhã, durante o tempo de aulas.
A vida de Mário Marques também sofreu uma grande mudança desde o acidente do Gustavo. Deixou a sua rotina diária e passou a ser um pai atento a todos os movimentos de quem se encontra limitado a uma cadeira de rodas. Mas como diz Mário a "vida é para se ir vivendo". "Foi nos primeiros e cruciais momentos após o acidente do Gustavo que o médico que o assistia me disse: é preciso ter esperança e aceitar a vida como ela é. Estas palavras nunca mais me deixaram o pensamento". E é porque continua a acreditar que o filho se pode "realizar de outras formas" que todos os dias acompanha o Gustavo para que o objectivo de se licenciar em Engenharia Civil se concretize.

Zonas interditas

No centro de reabilitação de Alcoitão, o Gustavo conquistou alguma autonomia e aprendeu a movimentar-se na cadeira de rodas, por isso espaços adequados não constituem problema, as dificuldades surgem porque a maioria dos edifícios e espaços públicos não respeitam as regras de acessibilidade.
Gustavo refere que "já se vai tendo alguma sensibilidade e atenção para com os paraplégicos, infelizmente ainda não é suficiente. Por exemplo, na Covilhã raros são os edifícios que se lembram das pessoas com deficiências motoras. E o mais grave é que esta é uma situação que a lei contempla desde 1991, e que diz que todos os edifícios públicos devem respeitar as normas de acessibilidade". Isto significa que nas entradas devem existir rampas de acesso, a largura das portas nunca deve ser inferior a 90 cm, e muitas outras condições que são sistematicamente desrespeitadas.
Sozinho um paraplégico não pode ir a um café, entrar numa loja, pagar a conta telefónica. São pequenos exemplos de uma sociedade que é para todos, "mas para uns mais que outros".

Construir sem barreiras

Após o acidente, uma assistente social de Alcoitão contactou a reitoria da universidade, que de imediato tomou as providências necessárias ao regresso do Gustavo. Actualmente o Gustavo vive na residência dos serviços sociais da Universidade da Beira Interior (SASUBI).
Para que isso fosse possível construiu-se uma rampa de acesso à entrada principal, a casa de banho foi totalmente remodelada, a porta do quarto foi alargada, ou seja a casa foi adaptada de modo a facilitar os movimentos e a circulação do Gustavo no seu dia a dia.
Este aluno especial foi conquistando pequenos passos que lhe permitem frequentar a universidade. "No início não havia local de estacionamento, mas actualmente já tenho lugar reservado. Também posso utilizar o elevador que me leva a andares superiores, e já posso ir ao bar, aos serviços académicos... contudo, continua a ser-me vedado o acesso à biblioteca, reprografia, salas de computadores, ao trabalho de campo, e a todas as cantinas, exceptuando o snack-bar onde habitualmente almoço".
O Gustavo tem nova ambição: ter um automóvel ajustado à sua deficiência, e assim obter a autonomia que neste momento lhe é assegurada pelo pai. Esta vontade é tão forte, que se tornou o tema de conversa mais frequente entre amigos. No entanto, esta autonomia será sempre limitada enquanto as normas de acessibilidade não forem respeitadas.






.

 Primeira Ubi  Covilhã  Região  em ORBita  Cultura  Desporto Agenda