A história da indústria dos lanifícios na região prolonga-se por mais de 200 anos. É, portanto, natural o Núcleo da Real Fábrica Veiga ter três pisos, existindo mesmo assim espólio de fora por falta de espaço. O piso intermédio é o principal: aqui se localiza a entrada, uma loja para comprar lembranças da visita, um café, sanitários, sala de descanso, zona wireless e Centro de Documentação com material bibliográfico sobre os lanifícios. Mas não se fica por aqui. Neste piso 0 é possível encontrar ainda exposições temporárias. Neste momento e até 4 de Setembro, descobrem-se “Entropias”, uma exposição do trabalho do artista plástico polaco Michal Krenz.
É altura então de recuar no tempo. Começa nesse mesmo piso 0 o enquadramento básico do que a indústria dos lanifícios é e como evoluiu. Explica-se o que é a lã, as suas características, mostram-se alguns resultados depois de ser tratada… pode dizer-se que é “uma entrada para abrir o apetite”. Pouco mais à frente ficamos a saber mais dos propulsores desta indústria na região: José Mendes Veiga está ligado à afirmação da Real Fábrica no panorama nacional, e o seu trabalho teve continuidade com o sobrinho Marcelino José Ventura, e mais tarde com o afilhado de Marcelino, o Conde da Covilhã. Destes três empresários empreendedores é-nos dada a possibilidade de conhecer alguns dos seus bens, e também de espreitar o escritório onde trabalharam. Para dar por terminado este piso, podemos ainda apreciar alguns trabalhos dos alunos de Design de Moda, que fizeram peças de vestuário a partir da lã.
É altura então de descer ao piso -1 e perceber o início do processo que a lã atravessa até chegar a tecido. Uma porta dá-nos acesso a uma parte exterior ao edifício, e lá encontramos uma vedação e a Ribeira da Goldra a correr pelo meio de vegetação. A surpresa de encontrar duas ovelhas na área exterior de um museu é enorme, porém elas são parte indispensável no processo. Quando esta reportagem foi feita, a 1 de Junho, cerca de duzentas crianças tinham festejado o seu dia no museu e puderam ver essas ovelhas ser tosquiadas. Daí se compreender alguma inquietude dos animais, com pouca vontade para poses fotográficas. Voltando ao interior do edifício, o espaço é ocupado por grandes máquinas de cardação e penteação da lã, bem como por uma gigantesca caldeira de vapor. E se pouco antes tínhamos entrado no lado pessoal dos empresários, neste piso ficamos a conhecer o refeitório e o vestiário dos trabalhadores da fábrica. Para finalizar a ronda, chegamos a uma área que provocou atrasos nas obras de requalificação do edifício: uma descoberta arqueológica, de uma estrutura de engenharia hidráulica com mais de 300 anos, e que posteriormente serviu para instalar as caldeiras a vapor da Real Fábrica Veiga.
Por fim, a subida ao piso 1, para a parte final do processo: a fiação e a tecelagem. Novamente, são as máquinas de grandes dimensões – como os teares e as caneleiras - que ocupam a vista, e alguns instrumentos auxiliares – como as lançadeiras. Através de alguns expositores, fica-se a saber que para todo o processo era exigido tanto o trabalho de homens, como o de mulheres e também o de crianças. Basicamente, esta era uma indústria que dava emprego a toda a família. Neste piso encontram-se ainda diferentes tipos de tecido e pode observar-se o resultado final de todo este processo gigante. Acabada a visita guiada, chega a altura de colocar algumas questões à directora Elisa Pinheiro.
À conversa com Elisa Pinheiro