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"Tudo é mais fácil a cantar" com a Maria
Urbi · quarta, 18 de novembro de 2015 · O Fórum Castelo Branco recebe no sábado, dia 21 de novembro, um concerto com "As canções da Maria". Muito mais do que música infantil, este projeto, criado por Maria de Vasconcelos, é um ferramenta didática. O Urbi entrevistou a artista, que é também médica psiquiatra e tem nas suas filhas a maior inspiração para os temas. |
"As canções da Maria" em concerto. Foto: José António Noverça |
22015 visitas A tabuada, os aparelhos digestivo e respiratório, os problemas matemáticos, entre muitos outros temas podem ser aprendidos a cantar. Quem o diz é Maria de Vasconcelos, que criou o projeto "As canções da Maria" e promete mudar a aprendizagem dos mais novos. Como? Foi isso que o Urbi procurou saber numa entrevista com a autora, antes do seu concerto em Castelo Branco.
Urbi et orbi: Como é que surgiu o projeto "As Canções da Maria"? Maria de Vasconcelos: Estudei música desde pequena e lembro-me de mim a cantar desde sempre e a fazer canções a torto e a direito. Na escola já fazia cantigas com a matéria para ser mais fácil aprender. Quando as minhas filhas, a Mathilde e a Manon começaram, ainda muito pequenas a colocar-me questões sobre as matérias da escola, eu resolvi fazer canções para lhes facilitar a aprendizagem e um dia resolvi exportá-las para fora das portas da nossa casa e tentar facilitar o estudo de todas as crianças que gostem de aprender desta forma. O mais fantástico de tudo é comprovar isso todos os dias com o imenso retorno de pais, professores, educadores e das crianças que nos escrevem e nos acompanham nos concertos. Urbi: O que é que torna este projeto diferente da tradicional música infantil? M: "As canções da Maria" são uma ferramenta didática, editada há já mais de 3 anos e meio. São o programa escolar do 1º ciclo a cantar. Facilitam pois a aprendizagem. O 1º livro/CD contem 15 canções sobre temas como os nomes coletivos, os ditongos, o aparelho urinário, o aparelho cardiovascular, a adição, a subtração, a lateralidade, os planetas, etc. O 2º avança mais um pouco, e em 18 canções explica a sílaba tónica, a tabuada, a ortografia, o aparelho digestivo e o respiratório, os problemas matemáticos, os nºs pares e ímpares, etc. No que diz respeito aos DVDs, o 1º traz os vídeos correspondentes ao 1º livro e este 2º traz os correspondentes ao 2º. Os DVDs acrescentam explicações em imagem. Os vídeos são em desenho animado e sempre muito pedidos pelas crianças, pais e professores. Urbi: Onde foi buscar a inspiração para as músicas? M: Das minhas filhas, a Mathilde e a Manon, e do meu marido, Xavier, o nosso Mathias. A Mathilde e a Manon trazem da escola perguntas novas, assuntos novos, ajudam na escolha dos temas, nas rimas, na forma de explicar, dão imensas ideias, são essenciais e inspiradoras. O Xavier ajuda-nos em tudo e é uma fonte de ideias inesgotável, na sua maior parte divergentes, e o pensamento divergente é uma ferramenta essencial para a criatividade. Urbi: O gosto pela música é algo que sempre existiu? Sempre pensou em ter os seus próprios álbuns? A ideia sempre foi criar música para o público infantil? M: Sim, a música é vital para mim, desde sempre. Aprendi guitarra, estive no conservatório nacional, fiz o curso geral de violino, toquei em várias orquestras. A guitarra é a minha melhor amiga. Não, não pensei ter álbum nenhum. No entanto antes de "As canções da Maria", em 2005, saiu um álbum de originais meus chamado "Era uma vez". Para esse disco fiz uma canção para a Mathilde, quando ela tinha 9 meses. Muitas pessoas me pedem para reeditar, quem sabe?... Depois, quando a Manon era bebé, fiz outra para ela que não chegou a ser editada, ainda... Não, não pensei fazer música para crianças. Aliás, costumo afirmar que "As canções da Maria" não é mais um disco para crianças. O público é infantil, claro, porque está em idade escolar, 1º ciclo, mas o meu objectivo é que sejam ferramentas de estudo e não simplesmente discos para crianças. Urbi: A Maria é médica psiquiatra. Considera que a sua profissão a ajudou de alguma forma na criação deste projeto? Como? M: Talvez, porque o resultado é sempre maior do que a soma das partes mas ser médica psiquiatra não me facilita escrever nem compor para crianças. Facilita talvez escrever para adultos. O que me ajuda, claramente, são as minhas filhas, as suas necessidades, desejos, capacidades, aquisições, a sua forma inocente e bonita de ver o mundo. Este projecto foi criado graças a elas e para elas, saindo depois de nossa casa para todas as crianças que o possam e queiram aproveitar. Urbi: Sente que é cada vez mais importante encontrar novas formas de ensinar os mais novos? Considera que a música pode ser um novo caminho para a aprendizagem? M: Se não considerasse, não teria feito "As canções da Maria". Já tive o privilégio de falar sobre a aprendizagem no TEDX Boavista e no TEDX Feira, se quiserem ir espreitar, julgo que é esclarecedor. Quanto mais formas diferentes arranjarmos de explicar algo, a mais crianças conseguiremos chegar. No que à música diz respeito, "Tudo é mais fácil a cantar" é o nosso lema. Tudo é mais divertido. Estudar a cantar é como se se brincasse. Não exige tanto esforço. A música toca no coração e a memória do coração é muito forte. Nós temos dois hemisférios cerebrais, um esquerdo – da lógica, do pragmatismo, da linguística, focado numa tarefa de cada vez, mais teimoso mostrando mais persistência em acabar aquilo que começou. E temos um hemisfério direito – o da linguagem não falada, capaz de tratar várias coisas ao mesmo tempo, mais flexível, mudando de planos para resolver problemas, aparentemente mais ligado à avaliação emocional e à memória emocional, mais sensível à linguagem artística. Quanto mais os dois funcionarem com um mesmo propósito mais fácil é a memorização. Logo, se a matéria for cantada, de forma engraçada, associamos o conteúdo a decorar a uma forma muito agradável de o transmitir, associamos os dois hemisférios, e isso facilita a aprendizagem. Empiricamente sabe-se que tudo é mais fácil a cantar. Por algum motivo temos o ditado "Quem canta seus males espanta". A minha avó sempre mo disse e a minha mãe também. Neste caso específico, "Quem canta, seus males de aprendizagem espanta", eu ainda sei os verbos transitivos que aprendi no 7º ano porque os aprendi a cantar, apenas para dar um exemplo. Comprovo que é verdade com as minhas filhas, com os colegas delas, com o retorno que tenho tido de outras crianças, dos professores e dos pais. Urbi: O projeto já vai na segunda edição. Podemos esperar por mais canções da Maria no futuro? M: Sim, até porque temos desde sempre um retorno fantástico. Muitos professores dizem-nos que usam os livros/CDs e os DVDs a acompanhar o programa do 1º ciclo. Dizem-nos que muitos meninos já lhes chegam a saber uma série de assuntos, que lhes sobra mais tempo para fazer outras coisas, que realmente tudo é mais fácil a cantar, e pedem mais. Os pais também pedem mais e contam que gostam de estudar com os filhos, a cantar. Nos concertos é muito bom ver e ouvir, também, os pais a cantar, com grandes sorrisos. Os meninos e meninas contam-nos estórias como: "Não me conseguia lembrar da resposta a uma pergunta que saiu num teste. Comecei a cantar a tua canção para dentro, lembrei-me, respondi e acertei!". É o melhor dos testemunhos. É este o primeiro objectivo de "As canções da Maria". O que também é muito engraçado é opinião de alunos mais crescidos, do 3º ciclo e secundário, que me dizem que assuntos das canções como as cores do arco-íris os ajudam a saber o espectro da luz, o corpo humano ajuda nas ciências, a tabuada na matemática, os nomes coletivos na língua portuguesa, etc. Há ainda os testemunhos dos pais de meninos e meninas com tissomia 21, autismo, dislexia, que afirmam que os filhos aprendem muito mais facilmente. Os terapeutas da fala também usam as canções nas sessões, dizem-me, com bons resultados. Em geral, as crianças contam que se sentem mais confiantes. "Já não tenho medo de ir ao quadro, nem que o professor me faça perguntas". E pais e professores corroboram. Estou a escrever um especial história, um especial corpo humano e mais canções sobre a gramática e a matemática. As manas M avançam na escola e eu vou avançando com elas. Urbi: Como é que é um concerto das Canções da Maria? M: É feito em família, pela nossa família, a Maria, a Mathilde, a Manon e o Mathias (O Mathias é um mini-Xavier, o pai das manas M), para todas as famílias que gostam de estar connosco. É cheio de canções, conversa, interacção com o público. O mais engraçado é a participação, permanente, das manas M. Quando "As canções da Maria" chegaram ao público, a Manon e a Mathilde tinham 5 e 7 anos. Neste momento têm 9 e 11. Eram tão pequeninas, e ainda são pequeninas, e portam-se melhor do que muita gente grande. Para nós tem sido maravilhoso vê-las crescer, também no palco. Podem espreitar o das Festas do Mar em Cascais. Urbi: As Canções da Maria vão estar em Castelo Branco no dia 21 de Novembro. Quer deixar um convite aos leitores para assistirem ao concerto? M: "As canções da Maria" vão estar no Fórum Castelo Branco no sábado, 21 de Novembro, às 15h. Venham cantar connosco! "As canções da Maria” são feitas pela nossa família para todas as famílias que queiram estar connosco. É graças às vossas famílias que a nossa pode continuar este projecto. Por isso, desde já, muito e muito obrigado! |
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