Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Da diferença à irreverência
Sandrine Pessegueiro e Mariana Barbosa e Bruna Barreiros Santos e Joana Isabel Gonçalves · quarta, 27 de julho de 2016 · @@y8Xxv Designers, estilistas, criadores: são jovens, estudam na Covilhã e têm em comum a diversidade e a originalidade. Muitos são aqueles que correm atrás de um sonho, mas poucos são aqueles que realmente o alcançam. Fomos à procura de jovens ubianos que estão agora à procura de um caminho para o futuro. São responsáveis pelos seus próprios projectos e ambicionam ver o seu nome em destaque no mundo da moda. |
Desfile da coleção CHAOS, no ArtUBI. Créditos: AAUBI. |
21995 visitas Todas as áreas que envolvem o mundo profissional têm os seus prós e os seus contras. Falar em carreiras no universo do trabalho é falar também em desafios. Em todas as carreiras profissionais isto acontece. Momentos bons, momentos maus. Contudo, existe uma área em particular em que esta característica está vinculada: na moda. Primordialmente, pela constante mudança nos padrões que a sociedade impõe a si mesma. Seguidamente, pela sensibilidade no assunto que diz respeito à beleza. Num mundo em que o conceito de “bonito” e de “estar na moda” é tão relativo, como fazer história a nível profissional? Desde cedo, o gosto pela moda cativa milhares de pessoas que, cada vez mais, são influenciadas pelo que vêm nos meios sociais e pelo que acompanham no dia-a-dia. Seja por exemplos que têm na família, seja pelos programas que passam na televisão. Existe, portanto, a vontade de ser diferente, de ousar. O primeiro passo é procurar uma faculdade relativa ao tema, para aprofundar estudos sobre o assunto. Mas será que ter vocação para esta vertente de laboração específica será suficiente para que o sucesso seja alcançado? Existem vários motivos que levam algumas pessoas a ter sucesso em detrimento de outras. O principal de todos eles, num mundo tão incerto como este, parte por arriscar. Aos oito anos, Ricardo André, estudante da licenciatura em Design de Moda, na Universidade da Beira Interior, viu na arte do ponto de cruz uma magia caricata. Para ele, ver a sua avó a criar “desenhos” num pedaço de tecido foi motivo suficiente para lhe despertar interesse. O jovem conta-nos, entre um sorriso e outro, que a sua avó, na altura, ainda lhe “tentou ensinar através de um desenho do Pai Natal”. No entanto, só passados 11 anos é que aprendeu essa arte com a pessoa que já lhe “queria ter ensinado há muitos anos atrás”. Foi, desta forma, que nasceu a paixão do estudante pelo mundo da moda: através da família. Desde então, todo o percurso académico do Ricardo tem tido por base a formação a nível profissional no ramo da moda. Ingressar no curso de Design de Moda fez-lhe solidificar conhecimentos que durante o seu secundário, no agrupamento de artes visuais, tinha começado a aprender. O jovem encontrou na moda o sonho de se profissionalizar no ramo, tendo, com isso, procurado aprofundar os seus conhecimentos e trabalhos na área. Para a realização da colecção CHAOS, que apresentou em outubro, pôde contar com o apoio dos seus professores e das auxiliares de têxteis, assim como dos seus colegas. Ricardo André conta que “a coleção baseou-se no urbano, no grunge. Tendo como essência o Streetwear, a CHAOS tem como paleta de cor unicamente o preto em várias texturas.” Este jovem representa um dos exemplos de quem busca assentar-se financeiramente neste ramo, desde cedo, tendo, por sua vez, apresentado a sua primeira colecção no ARTubi. Susana Marques, também aluna de Design de Moda na UBI, acompanhou de perto o trabalho do colega, Ricardo. “Embora não seja tanto o meu estilo, acho que a colecção ficou óptima. Quando olho, vejo uma irreverência punk, e uma elegância sombria. O conceito que ele criou nesta colecção... acho-o incrível”, conta a jovem de 19 anos. Também ela, ainda a frequentar a licenciatura, procurou lançar-se no mercado assim que teve a oportunidade. Apresentou, com 17 anos, a sua primeira colecção no Moda Barcelos, projecto em que participa há já três anos. Quando entrou na faculdade, duvidou sobre essa sua participação no ramo da indústria: “questionei se realmente devia ter apresentado a colecção tão cedo porque vejo o meu estilo a mudar a cada dia e noto evolução constante nos meus projectos”. No entanto, Susana admite que isso a fez crescer por vivenciar todo o “processo que antecede o desfile, lidar com todo aquele stress”, assim como lhe fez perceber que aquele era o seu sonho. Ainda sem ter completamente a certeza de qual é o seu estilo, a jovem sabe que é “uma apaixonada pela alta-costura”, sendo esse o sector que mais a atraí a nível de trabalho. No futuro, pretende tirar uma especialização no ramo da moda e trabalhar para alguma marca, onde possa, juntamente, apresentar colecções com o seu nome. Segundo Madalena Pereira, diretora da licenciatura do curso, tirar uma especialização na área de Design de Moda é para os alunos “uma mais-valia para a sua profissão ao longo da vida”. Isto porque a licenciatura dá competências para que se trabalhe na industria, mas, na sua visão, quem tira mestrado tem “o complemento da especialização para que efectivamente seja bom designer, tenha um pensamento mais abrangente”. Como professores universitários, Madalena acredita que é da sua “função motivar os alunos para evoluírem não só do ponto de vista do saber executar, do saber desenvolver, mas também do saber pensar, do saber por em causa e de criar uma estratégia, criar o seu próprio negócio”. Tudo isto se consegue com uma perspectiva mais abrangente. Enquanto costurava, na sala de confecções do departamento de moda, Ricardo contou que no futuro pretende tirar uma especialização no curso, ligada à confecção. Entre as suas ambições, acrescenta que enquanto designer pretende “um dia ter um nome na indústria”, para formalizar a sua “marca”. Em 2016 tem dois projectos de colecções a serem apresentadas: dist-turb collection e visions – capsule collection. A acompanhar todo o trabalho de Ricardo esteve, também, outro dos seus colegas. Nuno Queirós, também estudante na UBI, admira o facto do colega se motivar “a ele mesmo para evoluir a cada dia que passa e aprende sempre com tudo o que faz”. Também este jovem procura aventurar-se na indústria, mas numa vertente distinta: nas sessões fotográficas. “Na verdade aquilo que mais me dá prazer, e que me sinto mesmo realizado, passa por todo o processo da última parte do nosso trabalho enquanto futuros designers”, realça, referindo-se à elaboração das fotografias. Equiparadamente aos jovens empreendedores referidos anteriormente, que procuram criar a sua própria marca, já alguns ex-alunos o conseguiram fazer. A CUSCUZ, marca criada por uma aluna de Design de Moda e uma aluna de Design de Multimédia, Marta Deneuve e Ana Mendes, respectivamente, é um destes exemplos. A ideia surgiu no momento em que Marta estava a juntar os seus trabalhos para elaborar um portfólio, mas reparou que isso não era o suficiente para lhe levar além. Assim sendo, ao juntarem conhecimentos de cadeiras que tiveram, Marta e Ana idealizaram o conceito da sua marca. “Cadeiras de Marketing e sustentabilidade ajudaram a que a visão da Cuscuz se tornasse sólida. Juntou-se o útil ao agradável”, refere Marta. A paixão desta jovem, pela moda, surgiu quando era pequena, na creche. Fez uma ilustração de um vestido e as professoras gostaram. Aprendeu, posteriormente, a costurar com a sua avó, que mora no Brasil. A Cuscuz é uma marca de óculos de sol, confeccionada artesanalmente pelo pai de uma das fundadoras que abraçou o projecto, onde utilizam madeiras recicláveis, característica que as distingue no mercado concorrencial. Enquanto designers, as raparigas prezam, na sua marca, atributos que são “minimalistas, futuristas e geométricos”. É um conceito em que as fundadoras não consideram relevante existir distinção entre sexos. A marca existe há um ano e as suas participações em projectos de grandes dimensões começaram quando o conceito ganhou popularização. Entre os vários e-mails que receberam, depois da divulgação em blogues, nas redes sociais e móveis, um deles veios de Catarina Oliveira, estilista. A proposta foi de uma colaboração e “foi aí que nasceu a colecção que foi apresentada na moda lisboa”. Depois de terem participado no evento, cada vez foram mais as pessoas que as contactaram. Recentemente, as jovens foram convidadas por uma das suas professoras, Catarina Moura, a participar numa conferência de Designers, na UBI. Aí explicaram o processo que as levou a chegar onde chegaram, as ajudas que tiveram e também os obstáculos. Quando questionadas sobre este último tópico, as jovens não demoraram a responder: “muito tempo para chegar à medida dos óculos” e o “tratamento da madeira” foram os principais. Marta acrescenta, ainda, que acredita que os “professores de multimédia e comunicação receberam muito bem a ideia”, mostrando que o departamento de Artes e Letras está unido quando se tratam de projectos inovadores. Para o futuro, têm planeado lançar um site no início de Janeiro de 2016. As colecções são limitadas. Uma por ano. Para Madalena Pereira, é necessário que se crie “currículo durante a licenciatura, ou seja, participar em projectos, atividades, iniciativas, fazer trabalhos em conjunto com comunicação, multimédia, cinema. Mesmo que sejam trabalhos aqui internos, criar cartazes, divulga-los”. Desta forma, convicta das suas palavras, demonstra o seu total apoio aos alunos que procuram lançar-se no mundo da moda. “Todos os trabalhos são interessantes, contudo, para que resultem, têm de os pôr no mercado, têm de ter o feedback da comunicação social especializada”, acrescenta. Desta forma, Madalena tem na memória vários projectos de ex-alunos que, à semelhança dos casos apresentados, também procuraram fazer currículo o mais cedo possível. Inês Duvale, licenciada pela Ubi, “ganhou o concurso da moda Lisboa Jovens Talentos. Tem uma colecção muito interessante, quando lançou era para homem e bastante vanguarda”, conta a diretora. “O Ricardo Passaporte ganhou o Jovens Criadores – concurso do instituto português da juventude-que também tem concursos para as áreas de fotografia, design de comunicação, design de multimédia”, acrescenta ainda. Madalena Pereira refere, também, que há os alunos que “marcam ao longo da vida como por exemplo o Bruno Cunha, que criou o Expand your mind”, na Covilhã. Este é, para ela, um projecto muito interessante, “que vem da sua irreverência que o fez criar enquanto estudante esse evento, que durante os quatro ou cinco anos em que permaneceu na UBI, criou e desenvolveu esse projeto.” Por Bruno ter executado o projecto com colaborações, nomeadamente com comunicação e multimédia, Madalena crê que este é “bom exemplo de como se pode trabalhar transversalmente, ou seja, todas as áreas dos alunos que estudam na UBI”. Na sequência do projecto, Expand Your Mind, há também o exemplo de Catarina Lopes, aluna do último ano de mestrado em Design de Moda na UBI. Participou nas três últimas edições deste projecto e, em 2015, participou no Lisbon Design Show. Uma criadora que tem como inspiração a natureza, procurando definir no seu futuro muitos dos objetivos que criou. Lançou a sua marca “Catarina Lopes” porque segundo ela considerava-se “autodidata ao ponto de conseguir fazer mais do que os projetos que a faculdade exigia”. Acrescenta, ainda que com isso começaram a chegar encomendas, especialmente de roupas de gala. “Consegui fazer o que queria, que eram roupas únicas, tal como as pessoas imaginavam. Antes de começar qualquer encomenda, procuro sempre ter uma conversa com a cliente para perceber tudo o que ela gosta, o que não gosta, o seu tipo de corpo, também para conseguir fazer algo que fique perfeito”, partilha. A paixão pelo que faz, leva esta jovem da Nazaré a conseguir demonstrar o seu trabalho: “penso que, se seguirmos sempre o que mais gostamos, conseguimos as oportunidades que quisermos” reforçou, ainda. Escolheu a UB porque considera que “é, sem dúvida, a melhor universidade portuguesa para quem quer trabalhar em moda, sobretudo para quem quer "por as mãos na massa" ”. Catarina Lopes admira aquilo que aprendeu no curso, “na UBI conseguimos ser autodidatas, porque temos todas as condições para criar”, realçou a recém-licenciada. Para o futuro, para além de continuar a sua marca, sonha também lançar a sua própria marca de calçado. Com as histórias destes jovens, alguns que procuram lançar-se ainda a frequentar o curso e outros que, após a licenciatura, já conseguem demarcar-se na indústria da moda, reflecte-se o valor que a coragem de arriscar detém. Se por um lado temos Ricardo e Susana, jovens que procuram, através dos seus projectos, que têm sidos positivos, lutar por um futuro na indústria, tendo já planos para continuar, temos, por outro, a Cuscuz e Catarina Lopes que são uma marcas que já estão no mercado e têm sido bem recebida pelo público. Madalena Pereira menciona ainda que “o designer tem que ter a percepção de tudo o que o rodeia, não é só criar, é perceber o mercado”. Assim sendo, num mundo tão incerto como a moda, é preciso aliar-se a diferença à irreverência. Estes estudantes fazem exatamente isso. Procuram lutar pelos seus sonhos, percebendo aquilo que o meio em que se envolveram necessita. |
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