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A emigração teve honras de debate no Paul
Pedro Afflalo · quarta, 5 de outubro de 2016 · Colóquio realizado na Casa da Cultura da vila recebeu um painel especializado no tema. |
Vítor Pereira, presidente da Câmara da Covilhã, foi um dos convidados da sessão |
21987 visitas A questão da emigração na atualidade foi o mote escolhido pela Casa da Cultura José Marmelo e Silva para a realização de um debate, no passado domingo, no auditório daquela instituição, sediada na vila do Paul, concelho da Covilhã. O colóquio "Portugal Século XXI: Emigrar de Novo" juntou algumas dezenas de pessoas para ouvirem o painel composto pelo presidente da Câmara Municipal da Covilhã, Vítor Pereira; a antiga secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Maria Manuela Aguiar e o dirigente associativo e sindicalista Abílio Laceiras. O edil começou por saudar a Casa da Cultura José Marmelo e Silva pela organização do colóquio e por ter convidado pessoas que têm "uma experiência imensurável sobre este tema". Vítor Pereira destacou o percurso de Maria Manuela Aguiar enquanto secretária de Estado do Trabalho, na década de 1970, e da Emigração e das Comunidades Portuguesas na década seguinte. "Quer como governante, quer como cidadã, quer como mulher, sentiu o problema dos emigrantes", disse. Sobre a problemática da emigração, o autarca covilhanense defendeu a ideia de que é um tema tratado com leviandade e que "tem uma carga partidária que deve ser afastada da discussão", relembrando que, nos últimos anos, a discussão resume-se a "que governo teve a maior ou a menor taxa de emigração", para além das razões que justificam as variações. "A verdade é que é um fenómeno cíclico e que tem que ver com a nossa cultura e com a nossa história", concluiu Vítor Pereira, antes de passar a palavra a Maria Manuela Aguiar. A antiga secretária de Estado concordou com o autarca covilhanense, recordando que "temos vivido assim nos últimos 500 anos" e que a emigração existe desde que "Portugal se lançou nas descobertas e na colonização de outros territórios" e, se no início, "os principais destinos eram o Brasil e África", a partir do século passado o êxodo passou a ter como destino a Europa em geral e a França em particular. Por ser uma realidade há tantos séculos, Maria Manuela Aguiar explicou que se "criou no nosso país uma verdadeira cultura de emigração", com a ressalva de que apenas a partir do 25 de Abril as pessoas tenham passado a ir para fora livremente e "sem estarem a fazer algo clandestino". Mas se, por um lado, passou a haver liberdade para as pessoas emigrarem, "ainda não conseguimos garantir, em função da situação económica do país, a liberdade de não emigrar", lamentou a oradora. E é essa liberdade de não emigrar que, para Abílio Laceiras, "a emigração é um drama". Quando a pessoa é obrigada a emigrar "cortam-se os laços da família, cortam-se as raízes, a infância, e isso é dramático", disse o sindicalista natural de Silvares, Fundão, e que conhece bem a realidade dos emigrantes portugueses em França. Outra questão levantada pelo também correspondente do Jornal do Fundão em Paris foi a do número exato de emigrantes que saem em busca de uma vida melhor. "Hoje não há um governo capaz de dizer quantos portugueses é que emigraram e os serviços de apoio à emigração já não existem para ajudarem quem vai para fora", recordou. Para o painel de convidados, o flagelo das elevadas taxas de emigração, de abandono das terras e da desertificação do Interior só poderá ser contrariada com medidas do lado do desenvolvimento económico. Enquanto "se oferecerem os mesmos salários e as mesmas condições não vamos sair daqui. Vamos continuar a ver sair investigadores, académicos, professores, engenheiros, e médicos" porque lá fora "ganham mais e têm progressão nas carreiras", defendeu Maria Manuela Aguiar. O colóquio terminou com um espetáculo musical a cargo do grupo "Adufeiras do Paul".
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