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Burguesia causa instabilidade nacional
João Alves Correia e J. Machado dos Santos · quarta, 26 de outubro de 2016 · @@y8Xxv A incapacidade da burguesia brasileira em conviver com a democracia e respeitar a pluralidade das instituições políticas foi determinante para a destituição de Dilma Rousseff, diz Ivo Theis em visita à UBI. |
Ivo Theis dando início ao seminário "Brasil: o processo de impeachment" |
21978 visitas Dois meses após a destituição da ex-Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UBI recebeu o seminário "Brasil: o processo de impeachment", que decorreu no passado dia 18 de outubro e que teve como convidado Ivo Theis, docente da Universidade Regional de Blumenau. O docente brasileiro centrou a sua apresentação no fenómeno que é o "antipetismo", a forte oposição ideológica que o Partido dos Trabalhadores enfrenta desde a sua fundação. Posteriormente, relacionou-o com o objeto da sua tese, que alude às influências nefastas de associações políticas, poder jurídico, meios de comunicação social e organizações económicas durante todo o processo de impeachment. O docente teceu duras críticas aos representantes do Parlamento devido ao envolvimento de muitos deles em processos de corrupção, dizendo que "o Parlamento brasileiro é muito mau." Acrescentou que, se fosse Dilma Rousseff, "não se orgulharia de ser absolvido por este parlamento." Theis considera que o problema do governo do Partido dos Trabalhadores foi ter feito concessões a diversos poderes económicos, o que enfraqueceu a sua posição aos olhos da classe trabalhadora e dos movimentos sociais, que são a base eleitoral do PT. Concluiu, numa toada crescentemente ofensiva, dizendo que "não há possibilidade de se pactuar sobre o que quer que seja com as classes dominantes brasileiras", pressagiando que a esperança de estabilidade reside não numa luta com as classes dominantes, mas contra estas. Liliana Reis, docente do Departamento de Sociologia da Universidade da Beira Interior e segunda oradora do seminário, optou por uma abordagem distinta ao afirmar que o problema do Brasil se deve a uma "falência da democracia" dando como exemplo a utilização de um instrumento jurídico (o impeachment) para beneficiar uma determinada vertente política, o que colide com a boa prática de separação de poderes. Continuou questionando: "Como é possível que os poderes políticos que afastaram Dilma Rousseff estejam quase todos envolvidos em processos de corrupção e não sejam julgados?". A título de exemplo, mencionou Eduardo Cunha, membro instrumental na instauração do processo de impeachment que, coincidentemente, foi preso em Brasília no âmbito da Operação Lava-Jato no mesmo dia deste seminário. Para reforçar a sua questão, apresentou um índice de corrupção do mundo e outro do Brasil, concluindo que "a corrupção é endógena na sociedade brasileira." Pedro Guedes de Carvalho, presidente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, fez uma breve introdução ao seminário, seguido de António Fernandes de Matos (docente do departamento de Gestão e Economia),que apresentou os convidados e realçou a estranheza do processo para o público português, porquanto este não encontra equivalência no sistema político de Portugal. "Sairemos daqui mais bem informados", rematou. O seminário foi organizado pelas licenciaturas em Economia, Ciência Política e Relações Internacionais, e visou informar e esclarecer alunos e demais interessados sobre o assunto. |
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