“Um espaço só possível graças à percepção da sua importância por quem disponibilizou o espólio que se encontra em exposição”. Este é um ponto que a directora do Museu de Lanifícios, Elisa Pinheiro, gosta de frisar, e não é para menos: cerca de 97% do património do museu é resultado de doações.
A UBI também tem um papel decisivo na vida do museu, pois, segundo a directora, a universidade “foi modelar na forma como interpretou as memórias industriais e se lançou na preservação deste passado”. Cabe também à universidade e às pessoas que a compõem a continuação deste trabalho: “É possível manter a história industrial viva através dos estudantes, dependendo do curso e dos docentes, claro, mas o passado e o presente desta indústria pode ser trabalhado a vários níveis”. E dá o exemplo do trabalho de alunos de Design de Moda exposto no museu, em que através do passado se dá a conhecer o contemporâneo.
Apesar de uma crise que considera “social”, por haver muita mão-de-obra no desemprego, e de afirmar que “as empresas portuguesas não souberam acompanhar as tendências de desenvolvimento e modernização dos mercados”, Elisa considera que “a indústria dos lanifícios continua a ser rentável”, desmistificando algumas ideias de que esta é uma indústria arruinada.
Mesmo existindo falta de espaço para receber mais máquinas, Elisa Pinheiro considera que, depois de todas as obras feitas nos últimos anos e de se ter aberto o museu ao público há tão pouco tempo, “não é fácil entrar-se num processo de mais crescimento, o que não quer dizer que não possa vir a fazer-se no futuro”. Já as doações de peças pequenas vão continuar a ser bem recebidas e a ser postas em exposição, mesmo que não imediatamente.
“Os covilhanenses ainda não estão habituados a visitar o museu”, adianta Elisa em jeito de desabafo. Contudo, “já existem muitas marcações de todo o país e mesmo de Espanha”. Entretanto, destaque para o Dia da Criança, em que os petizes visitantes demonstraram “surpresa e entusiasmo ao encontrarem-se perante algo insólito, mas também curiosidade e muita vontade de aprender sobre este mundo”. Na altura da inauguração ocorreu outro momento importante: a Noite dos Museus, que coincidiu com o Dia Internacional dos Museus, 18 de Maio. Ao longo de todo o dia e início da noite houve visitantes seniores, alguns deles ex-trabalhadores da Real Fábrica Veiga, e música pela orquestra da EPABI. Esta foi uma ocasião importante para o museu e os grupos de terceira idade, pela “valorização do passado” conseguida.
O futuro do museu a médio-prazo já não vai contar com Elisa Pinheiro, prestes a reformar-se. Na hora da despedida, são muitos os adjectivos encontrados para definir todos estes anos como directora: o “alívio” de dar por terminada uma “missão pesada” (literalmente, pois muitas das máquinas em exposição excedem as centenas de quilos) e com muito “trabalho duro”, é compensado pela “satisfação, alegria e privilégio” de fazer parte da história do museu. Contudo, Elisa Pinheiro não deixa de apontar alguns caminhos a seguir para melhorar o espaço. O principal ponto prende-se com as acessibilidades: “Precisamos melhorar o acesso. Foi feito um projecto apresentado à Câmara para criar uma acessibilidade melhor e escoar o trânsito por outro lado, que não pode passar à nossa porta. Achamos que esta deve ser uma área pedonal, pois desta forma é um perigo. Dentro do museu temos sinalização para os visitantes terem cuidado com o trânsito”. E os incapacitados não ficam de fora desse futuro. Apesar de já existirem elevadores, parques de estacionamento para deficientes e alguns materiais que os invisuais podem tocar, “toda a informação escrita do museu foi compilada e está pronta para poder ser transmitida em Braille”. Outra das intenções futuras é conseguir instalar uma passadeira táctil. Mas seja qual for o futuro seguido, Elisa Pinheiro não tem dúvidas: este museu mantém viva a chama da Covilhã como centro histórico dos lanifícios portugueses.