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Jorge Bacelar


Deixai vir a mim [a mesada d]as criancinhas

Talvez por causa da esclerose e do avançar do tempo, estarei a perder a capacidade infantil de me maravilhar com o mundo. Talvez devido às leituras herméticas a que me tenho dedicado, esteja a assassinar "a criança que vive dentro de mim". Talvez seja por isso, ou por qualquer outra razão. Mas que não consigo achar piada nenhuma aos Pokémones, isso não consigo.
Já tentei. A sério: visionei a cassete com as aventuras do Ash à caça dos Pokémones, tentei perceber a taxonomia dos monstrinhos de bolso que a Nintendo nos anda a impingir. Li os cartões (750 mérreis a carteira de 3 - e tanto quanto parece, são mais de 150...). O filme em versão-cinema, as t-shirts, sapatilhas, porta-chaves e a restante parafrenália do merchandising está aí, a segunda cassete tem o lançamento marcado, etc., etc. Tudo by the book, como reza no Publicitor e no Mercator. Mas continuo sem perceber onde está o encanto da coisa. Já tentei explicações particulares com a minha filha (adepta convicta do fenómeno) que me tentou dar um curso intensivo e acelerado sobre o assunto, mas nada. Devo estar mesmo a ficar burro. E velho.

As únicas coisas que consegui apanhar no guião: 1 - Os pokémones lutam uns contra os outros; 2 - não há pokémones bons e maus, pois essas categorias vêm directamente dos seus treinadores; 3 - até ver, ganham sempre os bons, o que politicamente está correcto; 4 - You gotta catch'em all!!, ou seja, crava os teus papás e vovós, massacra-os se necessário, até teres a colecção de 150 mutantes (mais acessórios) no armário. Nessa altura os japoneses já terão engendrado outra porcaria qualquer para que os velhos continuem a desembolsar. Vejam-se os casos precedentes da Háidi & Marco, dos Páuér-Rangers, do DragonBól, para ver que não estou a exagerar nem um cisquinho.
Aquilo que não vem no guião e que também captei: 1 - as lutas de pokémones são provocadas pelos meninos maus; 2 - os meninos não lutam entre si - os seus pokémones encarregam-se disso; 3 - o contacto físico entre humanos é inexistente - os pokémones tratam do assunto.

Ou seja, a interacção entre seres humanos estabelece-se através de procuradores electrónicos (ou bio-eléctricos, ou ciborgues de bolso, que se transportam dentro de umas bolas e que são atirados uns contra os outros). O saudável hábito de andar à porrada (e trazer um olho pisado e uns arranhões como medalhas de guerra) perde-se assim, pondo umas bixezas esquisitas a fazê-lo por nós. Porque não com Rotweillers ou galos de combate? Sempre era mais biológico e não seríamos privados da visão poética do sangue e das tripas ao sol...
E outra interrogação se segue: se as cenas de pancadaria se fazem por procuração, como será o futuro destes putos, no que diz respeito a relacionamentos amorosos? Atiro a pokebola e o meu Zubat vai para a pokékama com a tua Zulbix?

É, devo mesmo estar a ficar muito velho. No meu tempo não era nada disto...

Ah!, não esquecer que "Pokémon, Picachu and all other Pokemon character names are the trademarks of Nintendo".
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O seu a seu dono, que o copirraite é essencial nestas coisas.






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