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"Coluna Partida" (1944)

Neste auto-retrato, uma coluna jónica, partida em vários pontos, toma o lugar da coluna fracturada de Frida Kahlo.
A abertura do tronco, os espinhos e o colete ortopédico, a par da paisagem desabitada, tornam-se símbolo do sofrimento e solidão da artista.


Frida Kahlo
o sofrimento e a arte


Frida Kahlo é muito provavelmente a mais famosa pintora mexicana de sempre. Nascida em 1907, teve uma vida que se pautou por acontecimentos trágicos, os quais exerceram grande influência na sua forma de ver o mundo, e que a levaram a abraçar a pintura como forma de poder exteriorizar todos os sentimentos que a assolavam por dentro.
Na sua infância, aos seis anos, contraiu poliomielite, o que lhe deixou marcas visíveis na perna direita e no pé esquerdo, que Frida tentou esconder passando a usar calças na adolescência e, mais tarde, compridas saias mexicanas. Num dia do ano de 1925, o autocarro em que seguia Frida Kahlo embateu num eléctrico. A jovem tinha 18 anos e sofreu ferimentos na coluna vertebral, de tal modo graves que os médicos questionavam-se se sobreviveria ou não. Passou nove meses na cama de um hospital, completamente privada de liberdade e de movimentos corporais. Foi precisamente neste período que começou a pintar pela primeira vez, como forma de se distrair do sofrimento que a consumia. Diz-se que o seu primeiro desenho dizia respeito à forma como recordava o acidente que sofreu.
Saída do hospital, e postas de lado as hipóteses de vir a tornar-se médica, Frida Kahlo começou a dedicar todo o seu tempo à pintura, afirmando que a sua obsessão era começar de novo e passar a pintar as coisas tais como os seus olhos as viam. Por esta altura, a artista decidiu quebrar os tabus do seu tempo e passou a representar nos seus quadros imagens muito pessoais, intimamente relacionadas com o corpo e sexualidade femininas.
A pintora começa igualmente a relacionar-se com artistas e intelectuais do seu tempo e acaba por casar-se com Diego Rivera, um famoso pintor mural mexicano. Apesar de uma relação de altos e baixos, e que os levou a divorciarem-se e casarem em segundas núpcias, Diego Riviera diria nos anos 50 que Frida era "a primeira mulher na história da arte a tratar, com absoluta e descomprometida honestidade, podíamos até dizer com uma crueldade indiferente, aqueles temas gerais e específicos que apenas dizem respeito às mulheres".
Diego Rivera instiga-a mesmo a pintar os acontecimentos que ela considere serem os mais relevantes da sua existência, e a pintora começa a representar nas telas desde a sua existência pré-natal, representada através de um feto no útero de uma mulher, até à forma como ela via o seu nascimento, a sua amamentação e infância. Começa igualmente a pintar inúmeros auto-retratos, que justifica da seguinte forma:"Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o tema que conheço melhor". Todavia, mesmo nestes auto-retratos, a pintura retrata-se contrastando a sua figura com paisagens de fundo vastas, despidas ou vazias, ou em quartos frios, que pretendem representar a sua solidão, resultante quer da sua relação turbulenta com o marido, quer do facto de não conseguir levar uma gravidez, que era muito desejada, até ao fim.
Devido a estes factos, a artista começa a centrar, cada vez mais realística e agressivamente, a sua atenção em temas como a gravidez e o aborto, desenvolvendo uma linguagem visual muito própria que buscou raízes na ligação que o povo mexicano tem com a morte, nas esculturas pré-colombianas e na iconografia cristã.
Depois de um período de uma certa estabilidade física; em 1950, a artista volta ao hospital por um espaço de nove meses e após sete operações à perna e à coluna, volta a pintar durante cinco horas por dia, sendo-lhe montado um cavalete especial na sua cama para que pudesse trabalhar, deitada de costas.
Foi ainda obrigada a ter de usar vários coletes ortopédicos de materiais diferentes, tendo pintado alguns deles com o desenho da sua própria coluna fracturada.
Frida Kahlo continuou a pintar até à sua morte em 1954, deixando transparecer em todos os seus quadros uma profunda tristeza e revolta. Tornou-se uma figura de culto, devido ao facto de pintar acamada e com fortes dores. É também das artistas que mais intimamente ligou as experiências pessoais com o seu trabalho. O México dedicou-lhe o Museu Frida Kahlo, construído na casa em que a pintora cresceu.

Pedro Jesus


 


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